sábado, 21 de dezembro de 2013

Enfim, férias! Boas festas, caros colegas!

Acabou. Agora, acabou mesmo. Todos os compromissos estressantes ficaram para trás. Nova vida, fase nova. Nunca senti tanta liberdade de escolha... Muitas coisas irão mudar a partir do ano que vem. Vejo um leque de possibilidades pronto para me abanar.

Sabe, caro colega, estive pensando... Somos profissionais de muito sucesso. Nosso salário que é um fracasso.

Feliz natal e um ótimo ano novo para você!

terça-feira, 17 de dezembro de 2013

O reajuste salarial dos professores do estado de Minas Gerais


Vejamos. Algumas situações matemáticas.

O professor semi-escravo ganha um salário bruto de R$ 1.386,00. O reajuste salarial concedido pelo governo do estado é de 7,5%. Quanto será o salário do professor?

Resposta: Com o aumento, o professor passará a ganhar R$ 1.489,95.

(Para os meus caros colegas da Europa, o valor acima citado corresponde a 465 euros. Em moeda norte-americana, 642 dólares)

Calcule o valor do aumento salarial em reais.

Resposta: R$ 103, 95 ( 32 euros ou 44 dólares)

Calcule a hora aula do estado de Minas Gerais.

Resposta: A hora/aula do estado de Minas Gerais gira em torno de R$ 10,00 ( 3 euros ou 4 dólares e 30 cents).

É mole?

Resposta: É mole e não sobe.

terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Ela só pensa em férias, ou quando d. Maragarida pira

"Se a secretaria de educação quer que eu aprove todos os meus alunos, quem sou eu para contrariar o governo? Sou esperta: faço o que me mandam quando isso me convém."

(D. Margarida fica muito cínica no fim do ano. É difícil aguentá-la.)

"Mas que isso é um absurdo, ah, isso é! O fulaninho não fez naaaaaaada o ano inteirinho, e no final vêm as especialistas nos dizer que a secretaria exige um relatório completo para cada aluno reprovado, desde o início do ano até hoje, com todos os trabalhos, todas as intervenções pedagógicas, todas as recuperações paralelas, todas as reuniões com os pais, etc."

(O certo seria exatamente isto: um relatório bem feito)

"O controle do processo ensino-apredizagem do menino não foi feito por elas, as especialistas. E agora está o maior terrorismo lá na escola: 'Tem que passar, gente! Não pode dar bomba! É ordem da secretaria!"

(O relatório por parte dos professores é muito simples: "não realizou as atividades", "não realizou", "não fez". É só pegar o caderno do menino e apresentá-lo no dossiê. Arquivar as avaliações não realizadas. E por que não foram realizadas? Aí já é um trabalho das especialistas junto aos professores. A responsabilidade do acompanhamento dos alunos que não deixam os outros que querem estudar em paz é delas!  O relatório final é um trabalho das especialistas. As especialistas são as responsáveis pela coordenação da aplicação do planejamento pedagógico feito por toda comunidade escolar)

"E agora ficam aterrorizando os professores sérios que sabem muito bem quem lê e quem não lê  em cada turma, pressionando os caros colegas a não reter ninguém. Trata-se de uma desmoralização completa do profissional compromissado, e, o que é pior, da formação de uma escola da impunidade."

(D. Margarida se acha a professora perfeita, o que não é verdade. Que preguiça de d. Margarida! A verdade é que a burocracia atrasa todo mundo. Inclusive d. Margarida. Ela se afoga no mar de papéis. Desorganizaaaada...!)

"Se é assim, vou inventar pontos para todo mundo! Vou passar todo mundo! Se é assim... se o aluno passa o ano inteiro sem fazer atividades e no final do ano eu sou obrigada a passar esse menino, para quê vou me dar ao trabalho de planejar atividades?"

(Cínica e antiética. Os alunos não têm culpa da picaretagem do professor.Afinal, ninguém obrigou d. Margarida a ser professora. Não é verdade, d. Margarida? A senhora foi ser professora porque quis! Então não reclame!).

terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Depressão a caminho

"A empregada doméstica da minha amiga ganha mais do que eu. O lixeiro que recolhe o lixo na porta da minha casa ganha mais do que eu. A faxineira diarista da minha vizinha ganha mais do que eu. A atendente do laboratório de análises clínicas ganha mais do que eu. O motorista de ônibus ganha mais do que eu. O porteiro do prédio de luxo ganha mais do que eu. A motorista da van da escola particular ganha mais do que eu. A secretária do meu amigo médico ganha mais do que eu. O garçon do boteco da esquina ganha mais do que eu..."

(O mundo é assim, d. Margarida. Uns ganham mais, outros menos).

"E eu me formei em uma das cinco melhores universidades do país! Que país é este? Ah,é o país dos idiotas!"

(A senhora acha que empregadas domésticas, lixeiros, motoristas e faxineiras são idiotas?)

"O governo é que é um  idiota! Depois o príncipe maquiavélico do Reino da Província vem com esse papo furado de 'competência' e 'eficiência'! E aquele hospital que está em reforma há mais de dez anos? Uma reforma que nunca fica pronta? Aí tem coisa. O governante que não dá conta de oferecer o básico do básico, ou seja, educação e saúde de qualidade para os seus governados não merece estar onde está. É um incompetente, um falsário!"

(D. Margarida adora esbravejar contra os governantes. Ela tem a mais absoluta certeza de que todos os políticos são farinha do mesmo saco!)

"E o escândalo do helicóptero, caros colegas? Vocês viram?"

(Todo mundo viu. D. Margarida delira. Ela pensa em pedir uma audiência com o governador)

"Vai, príncipe, vai asfaltar as estradas de terra do Reino da Província em troca de votos! Vai dar o nosso minério de ferro e o nosso nióbio quase de graça para os chineses! Vai paparicar os empresários oferecendo mundos e fundos nas parcerias mais públicas do que privadas! Vai, bobo! Vai nessa! Deixa o povo na ignorância para você ver o que acontece! Não haverá dinheiro que baste para a Segurança conter a barbárie da violência."

quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Aumento salarial para professor da rede estadual de Minas Gerais

Quem recebeu? Quanto? Quando? Onde?
É só propaganda enganosa do governo do Reino da Província. A cara de d. Secretária não queima. É de aço inox escovado.

Segundo li em um blog respeitável, a "coisa" chamada reajuste ainda será votada pela Assembléia Legislativa. E pelo visto a votação está sendo arrastada pela oposição para dar tempo à categoria de se organizar e pressionar o governo para este atender às verdadeiras reivindicações do magistério.

Ora, façam-me rir! Não sei por que não fizemos greve este ano. Minto. Sei muito bem: professor acha que greve não resolve e tem preguiça de repor as aulas.

No strike, no money, baby! E assim rasteja a humanidade: "sem força e sem vontade" de mudar.

quinta-feira, 31 de outubro de 2013

E aí, macacada? Parte II (ou Quando d. Margarida pira)

Eu nunca chamei meus alunos de macacos. Nem de brincadeira. Quer dizer... uma vez eu disse: "Pare de guinchar, menino!"

Ah, e também já disse: "Vocês parecem cachorrinhos de apartamento que ficam cheirando a porta da rua, doidos para passear."

"Credo, professora. A senhora tá chamando nóis de cachorro?"

"Não. Eu disse que vocês estão agindo como cachorrinhos e não que vocês são cachorrinhos. É diferente."

"Só porque a gente quer ir ao banheiro..."

"Vocês sempre querem ir ao banheiro, mesmo quando não estão com vontade".

Uma vez, há muito tempo atrás, durante uma aula, um aluno chamou o outro de macaco. Imediatamente tomei as dores do garoto negro:

"E você, sua lombriga branquela? Se ele é um macaco, você não passa de uma lombriga branquela!"

Eu era inexperiente na profissão. Achei que estava fazendo algo certíssimo defendendo o menino que foi acusado de símio.

De vez em quando quebro o protocolo e levo para a sala de aula esses casos que acontecem entre professores e alunos e que viram notícias de jornal. "O que vocês acham?"

"Eu acho que o professor deu mole. Professor folgado. Se fosse comigo eu dava um pau nele. Processava." Eles dizem.

Em outras ocasiões, no auge da insubordinação geral, eu brado:

"Ai, que saudade dos tempos da palmatória!"

"O que é palmatória, professora?"

Eu explico. Eles concluem:

"Hoje é o aluno que bate no professor, não é professora?"

"E você acha isso certo?" Procuro estimular o debate.

"Tem professor que é folgado."

"Folgado como?"

"Chama a gente de 'pivete'. Fala que nóis é burro."

Sinto pena. E vergonha.

Lembro da minha tia avó que me chamava de 'macaca'. Para o bem e para o mal eu era uma 'macaca'. "Menina mais sem modos", dizia.E até hoje sou muito estabanada. Com as coisas e, o que é pior, com as pessoas.

 O que eu queria mesmo era ser uma boa professora, competente, confiável, adorável e amiga dos meus alunos o suficiente para poder dizer a eles com carinho e sem pejorar:

"E aí, macacada?"

quinta-feira, 24 de outubro de 2013

E aí, macacada?

Li no jornal a notícia de um professor universitário do curso de Ciências Sociais de uma das melhores universidades do país acusado por estudantes de ter assediado uma aluna. Diz o professor que, ao ser interpelado pela aluna durante uma explicação sobre uma teoria sociológica, deu como exemplo um hipotético relacionamento amoroso entre a aluna e ele. Os coleguinhas da garota não gostaram e agora estão fazendo um escarcéu dos diabos. O professor foi afastado e o caso está sendo apurado pelas autoridades competentes.

Esse caso me fez lembrar de outro, também recente, de um professor de química (se não me engano) de  uma escola pública estadual que, segundo o jornal, se dirigiu à aluna da seguinte forma: "Se você fosse tão inteligente como é gostosa..."  A menina demonstrou seu constrangimento imediatamente. Imediatamente o professor caiu em si e pediu desculpas à aluna. Mas os pais vieram a saber do "sinistro" mais tarde e foram à escola no dia seguinte apurar o caso, com a imprensa a tiracolo.

Outro caso acontecido há algum tempo: um professor de ensino fundamental de um centro pedagógico universitário se ausentou da sala de aula por alguns minutos. Quando retornou, a bagunça era tanta que ele se dirigiu a um aluno comparando-o a um macaco. O mal-entendido tomou proporções enormes. Deu página inteira no jornal. O professor foi acusado de racismo pelos pais do aluno. Acabou exonerado, coitado.

O que está acontecendo?  Em quem acreditar? Nos professores ou nos alunos? Em qual contexto o professor chamou o garoto de macaco? Quão ofendidas as alunas realmente se sentiram? Até que ponto outros personagens tomaram as dores desses alunos? Quem está errado? Quem está certo?

Esses professores poderiam ser transformados em personagens da minha série "professores que piram", mas não vou fazer isso. A situação é mais grave. Tem clima de caça às bruxas. A sociedade exige do professor uma retidão monástica humanamente desumana. Já aos alunos, atualmente, permite-se tudo: eles podem plagiar e ou comprar trabalhos acadêmicos; eles podem mandar o professor tomar naquele lugar; eles podem depredar impunemente o patrimônio público; eles podem ser cínicos e desrespeitosos; eles podem usar drogas na escola...Eles podem tudo. O professor não pode nada. Ai do professor que sair do script e tentar improvisar um lado mais relaxado. Ai dele!

Não estou dizendo aqui que esses professores não erraram. Sei que existem várias versões dessas histórias. O que me assusta é pensar que uma simples palavra mal dita pode transformar a vida de um profissional em um inferno.

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Show das Poderosas

Acabei de ouvir da minha filha de oito anos uma paródia da música  Show da Poderosas:

Prepara
Que agora
É hora
da aula de história
É chata
demora
A professora adora.

Fiquei sabendo que os coleguinhas dela não param de cantar essa versão.
E é por causa dessas e de outras histórias que eu penso que o Brasil é e sempre será "o país do futuro".

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

$ Não existe Educação de qualidade sem a valorização do professor $

E as manifestações do dia 15 de outubro? Eu esperava mais. Pelo menos, o discurso da mídia parece ter incorporado a necessidade de aumento salarial para os professores. Só isso já significa um avanço. Nos telejornais havia um discurso mais favorável a apoiar os professores na luta por melhores salários.

Todos nós precisamos agir para que a mídia troque o discurso de "mais investimentos para a educação" por um novo texto: "aumento salarial para os professores" ou "valorização salarial dos professores". Precisamos agir para conectar e fixar a ideia "salários baixos = educação de má qualidade". Se conseguirmos isso, ou seja, que a mídia incorpore e dissemine essa ideia, estaremos no caminho que realmente levará a alguma mudança.

Há algo que os sindicatos precisam levar em conta: sem o apoio da sociedade e da mídia não iremos a parte alguma. Os políticos precisam sentir que se não atenderem às reivindicações dos professores terão prejuízo eleitoral. Os professores deveriam agir no sentido de construir ações e ideias que ameaçem o conforto político de governantes e legisladores.

Já falei neste blog e repito: professores deveriam aprender a agir para tentar determinar o resultado de eleições através da união da categoria e da influência sobre seus alunos. No dia em que se chegar à conclusão de que o resultado de uma eleição (local ou regional) foi determinado (em parte ou no todo) por causa das ações de professores, pronto! Estaremos no comando!

E nós, do Reino da Província? E nós, caro colega, da República das Alterosas? O que vamos fazer para mostrar ao governo que não estamos mortos nem enterrados?

terça-feira, 15 de outubro de 2013

Dia dos Professores

O que dizer, caro colega?
Vou lhe confessar uma coisa: detesto aquelas mensagens distribuídas em reuniões pedagógicas. Mensagens do tipo "se uma pedra de dez toneladas cair em cima da sua cabeça, sorria e mantenha o bom humor". Odeio esse tipo de mensagem! Elas são uma praga, uma epidemia que precisamos combater. Esses textos são nefastos pois ao invés de nos confortar, eles nos colocam ainda mais pra baixo pois são hipócritas! Chega a ser patética a lição de submissão presente nessas mensagens. Em quase todas, o subtexto é "se você está na pior, aceite o seu destino pois ser professor é uma missão, a mais digna de todas, e você é forte, é o mestre capaz de superar todos os obstáculos". Muito obrigada, eu dispenso esse tipo mensagem. Eu não sou Deus. Eu não sou Jesus. Eu não sou o Dalai Lama. Eu não tenho essa grandeza espiritual de aceitar tudo. Mesmo porque eu gosto de pensar em Jesus como um grande revolucionário. Por isso, caro colega, a minha mensagem  do dia dos Professores para você é uma mensagem de luta.

Não aceite. Lute.Questione. Informe-se. Mande a buRRocracia para o espaço. Participe. Mobilize. Manifeste. Reivindique. Faça valer o seu valor. E trate bem os seus alunos, pois crianças e adolescentes não têm culpa das incapacidades dos adultos de lhes oferecer um mundo decente. Eles são a parte boa dessa história, aquela que nos diverte, e para quem realmente trabalhamos, apesar de toda agressividade, apesar de toda violência, apesar de toda negligência.

Então, feliz Dia dos Professores!

sábado, 12 de outubro de 2013

Eu queria ser carioca

Eu queria ser carioca. Ser íntima da "cidade maravilha / purgatório da beleza e do caos". Lembro-me bem da minha primeira vez no Rio de Janeiro. Fiquei deslumbrada com a beleza natural e arquitetônica da cidade. Uma metrópole que inspira e transpira história, emoldurada por uma natureza exuberante. Uma natureza poluída, é verdade, mas capaz de extasiar a alma. E para todo lugar que se olha as fachadas despertam curiosidades e provocam surpresas.

E o povo? Aquela irreverência divina que deixa todo mundo sempre à vontade. Aquela criatividade inesperada que desafia preconceitos. Aquela malandragem estereotipada necessária à sobrevivência na selva de vaidades e desiguladades da Corte. O Rio é a Corte. Uma vitrine do Brasil para o próprio país e para o mundo.Um dos meus sonhos é morar lá. Um ano, no mínimo.

Como acontece com toda grande paixão, é claro que já me decepcionei com a cidade maravilhosa e com seus habitantes. Mas paixão vai e volta. E agora estou completamente encantada, de novo. Não é um acontecimento formidável as mobilizações dos professores que estão acontecento por lá?  Não é sensacional que a greve dos professores municipais esteja ganhando o apoio da sociedade carioca e que a categoria tenha conseguido levar milhares e milhares de pessoas às ruas? Ontem a justiça anulou a sessão de votação do plano de cargos e salários que o prefeito Eduardo Paes tentou impor à força.Para o dia 15 de outubro está prevista uma grande manifestação a favor da educação de qualidade e pela valorização salarial do professor.

E nós, caro colega? E nós aqui do Reino da Província? Da República das Alterosas? O que vamos fazer para nos salvar desse salário miserável e da destruição da nossa carreira?

terça-feira, 3 de setembro de 2013

Vamos acampar?

Tive conhecimento de que um grupo de professores está acampado em frente ao Palácio das Mangabeiras. O sistema é de revezamento. Por isso, se você animar, caro colega, passe por lá. A luta é pela ressurreição do "piso" e pelo descongelamento da carreira. Sou super a favor desse movimento...de algum movimento... afinal, precisamos mostrar ao governo que não estamos mortos e, à sociedade, que há algo de podre no Reino da Província.

Estou cansada de ganhar dois salários mínimos. Aliás, isso não é salário. Talvez seja uma ajuda de custo. Miserável. Estou cansada de ganhar ajuda de custo com o nome falso de "vencimento".

Eu não entendo. Por que os governantes do país não entendem que a principal solução para a educação brasileira é a valorização do professor? Sinto pena dos meus alunos. Sinto pena principalmente dos meus bons alunos. Crianças e adolescentes sensacionais, inteligentes, esforçados, compromissados, cujas potencialidades serão atrofiadas pelo péssimo sistema estadual de educação.

É a velha "polititica"! Não é da nossa cultura política pensar a longo prazo. Por isso os governos se apegam a programas imediatistas que, por sua vez, acabam até dando resultados pois atendem demandas muito antigas. Mas a base, o problema crucial, que é a valorização do professor na sociedade, vai sendo varrida para debaixo do tapete imundo dos donos do poder.

"Eu não preciso/de muito dinheiro/graças a Deus/ e vou tomar/ aquele velho navio"... Adoro essa música. Ela me faz refletir sobre quanto dinheiro preciso para viver e ser feliz. Esse papo de que "dinheiro não compra felicidade" não é comigo. Dinheiro pode até não comprar felicidade, mas compra uma certa tranquilidade. E não existe felicidade plena na ansiedade. Toda felicidade verdadeira é tranquila. E todo professor precisa ter uma vida tranquila para se dedicar à produção de conhecimento.

O tempo passa, estou envelhecendo e o meu preço está só subindo. Para início de carreira, cinco mil reais de salário líquido seria perfeito.

quarta-feira, 21 de agosto de 2013

O Dia D Difícil

Meu dia D foi difícil. Tive um desentendimento desagradável com um colega. Discutimos sobre a deficiência dos salários pagos aos professores. Para meu colega, um salário decente não garante maior dedicação profissional. Discordo, pois penso que professores com salários débeis tampouco se sentem motivados a enfrentar os grandes desafios que a Educação, hoje, demanda. O desenvovimento dos discentes fica comprometido, pois o professor se desgasta demais trabalhando em dois ou três turnos para sobreviver. As doenças aparecem. As faltas se sucedem. A disciplina escolar fica comprometida.

Meu colega não desconfia que existe um direcionamento dentro desse discurso. Se o professor é ruim, pensam os dirigentes, por que deve ganhar mais? Existe um imaginário onde o professor é um ser que deve viver apenas para a devoção ao trabalho, sem direito a uma vida com mais opções de vida, com mais riqueza de experiências, com mais dignidade e mais diversidade de pensamento.

dia D me deixou deprimida.

segunda-feira, 19 de agosto de 2013

O motim

Na última quarta-feira, uma turminha do sétimo ano "pintou" com D. Margarida. Simplesmente, os alunos não me deixaram dar aula. A minha aula! Que eu havia preparado com tanto carinho! Eles começaram a bater nas carteiras com as mãos. Todos ao mesmo tempo. Um verdeiro motim.

"Queremos desenhar! Queremos desenhar! Queremos desenhar!"

Fui pega de surpresa. Mas sou muito flexível. Não me abalo facilmente. Não mais. Eles querem desenhar? Ok! E escrevi a atividade no quadro:

"Crie uma história em quadrinhos sobre a vida dos escravos nos engenhos."

"Credo, professora! Você só fala de escravo!" disse M.

D. endossou: "É mesmo. Não vou fazer nada. Tô fora."

Aí eu entendi o que eles queriam. Eles queriam um desenho pronto para colorir. Desses tipo mosaico, com uma legenda de cores de acordo com os números. Um desenho que as crianças de 6 anos, quando decobrem os números, aprendem a colorir. Só que os meus alunos têm 12, 13 anos!

Em uma situação como essa sempre tento entrar em um acordo. Tento falar, explicar, argumentar, até reverter a situação. Mas eu estava cansada. Estava sem força. Parei debaixo do batente da porta e encarei-os. De repente, surgiu uma oportunidade para ir para outra turma, "subir" uma aula. Abandonei os rebelados com a ajudante de serviços e fui para o outro sétimo ano, que me recebeu super bem.

Estou ficando macaca velha. Sinto preguiça de sofrer.

domingo, 11 de agosto de 2013

Professores que piram (4)

Leio no jornal O Tempo, do último sábado, uma pequena notinha: "Professora traumatiza aluno". A professora de uma escola estadual, localizada em uma cidade no interior do estado de São Paulo, chamou o aluno de 11 anos de Félix.

Félix, para esclarecer meus caros colegas estrangeiros, é o nome do grande vilão da telenovela do horário nobre da Rede Globo, "Amor à Vida". O personagem é homossexual.

Diz a nota que a mãe do aluno "resolveu tirá-lo da escola para evitar mais traumas".

Fica a dúvida: por que a professora chamou o menino de Félix? Por que o menino demonstrou alguma maldade, alguma perversão? Ou por que o garoto demonstrou sua homossexualidade? Ou as duas coisas?

Alunos com atitudes perversas existem e são assustadores. Nós, professores, ficamos sem saber o que fazer com esse tipo de criança. Mandamos chamar os pais e, às vezes, os responsáveis são tipos muito piores.

Quanto à questão da homossexualidade, sou totalmente contra qualquer discriminação por parte dos professores em relação aos alunos nesse sentido. Sou do tipo que vira para os alunos, quando pinta uma piada, ou uma bricadeirinha preconceituosa, e falo: "E daí? E daí se tem gente que prefere se relacionar com pessoas do mesmo sexo?"

"É doença, professora. Falta de vergonha na cara", eles respondem. E eu retruco: "Não tem nada de doença. O ser humano é um ser cultural. Nós não praticamos sexo como os animais. A sexualidade humana é muito rica e variada. A pessoa tem que namorar com quem ela gosta e com quem gosta dela também. O mais importante é o sentimento, o respeito, o carinho." Eles me olham com cara de espantados. E a polêmica corre solta.

De qualquer forma, penso que a professora chamou o menino de Félix por impulso, por desespero. As crianças nos testam além do limite suportável. Falamos sem pensar. E é aí que erramos. Professor, atualmente, não pode falar nada sem pensar antes.

quinta-feira, 8 de agosto de 2013

Curso de capacitação de professores (2)

O curso de capacitação de professores no Othon foi muito melhor que no Tauá. Menos dispersão, melhor aproveitamento. Teve gente que reclamou, mas sempre tem aqueles que reclamam. Eu me incluo entre essas pessoas. Aliás, professor de escola pública é um bicho que reclama muito, de tudo. Às vezes sinto preguiça de D. Margarida, mas não há outra saída para nós, caro colega, a não ser "botar a boca no trombone". Precisamos nos politizar mais. Cada vez mais.

Continuo com a mesma opinião: foi tudo muito bom, tudo muito bem, mas realmente eu gostaria... de receber um bom aumento de salário. A equação que o governo do Reino da Província não entende  é a seguinte:

Salário digno =  qualidade de vida + autoestima elevada + dedicação à profissão - doenças - licenças médicas - faltas ao trabalho = Educação de qualidade

Olá, governador! Vamos acordar para a realidade?

segunda-feira, 5 de agosto de 2013

PNLD - Como escolher um livro didático

Você, caro colega, já deve ter percebido que sou a rainha da reclamação. Não será diferente em relação ao tema "livros didáticos".

Não existe livro didático ideal. Todos têm problemas. Então, como escolher o melhor livro didático pra você e seus alunos? Não é fácil, ainda mais se temos consciência de que é impossível ler todas aquelas coleções que as editoras mandam para as escolas. Podemos folheá-las, ler várias páginas, analisar as sinopses, mas não podemos nos iludir pelas aparências.

Minhas dicas sobre essa difícil escolha não são dicas de uma especialista. O livro que julgo o melhor meu caro colega pode não gostar. Enfim, são apenas umas dicazinhas ordinárias pra tentar facilitar a vida de quem tem que lecionar em três turnos pra sobreviver. Vamos lá:

1. Se você está satisfeito com o livro didático que utiliza em sala de aula, nem pense em perder tempo com  a análise de outros. Confira no site do Ministério da Educação, no Guia do Livro Didático, se o seu atual livro está na lista e peça-o. Mesmo que a nova edição venha modificada, a essência dos textos e da organização continuará a mesma e você não terá que mudar todo o planejamento que suou para construir durante os últimos quatro anos.

2. Se lhe disserem que não se pode permanecer com a coleção atual, que tem que trocar de livro, não caia nessa. Isso não existe. Essa compração de livro didático, essa gastação de dinheiro público, é um "acordo" do governo federal com as editoras de livros. Lembre-se: tem gente ganhando muuuuuuitooo dinheiro com isso. Então, facilite a sua vida.

3. Se você estiver pensando realmente em mudar de livro, a primeira coisa a fazer é pensar nos seus alunos. Eles são capazes de ler textos mais elaborados? Ou preferem textos mais curtos e simples? E quanto às imagens, gráficos, textos complementares, documentos e atividades? Enfim, esses pontos devem ser analisados dentro do possível. Procure encontrar um meio termo entre aquela coleção que você mais gostou e aquela que você acha que os seus alunos irão gostar mais.

4. Livros pesados, nem pensar. Principalmente se você leciona para alunos que vão a pé para a escola e depois têm que subir o morro pra chegar em casa. Quanto mais leve, melhor. Do contrário, você corre o risco de mais da metade da turma "esquecer" o livro em casa.

5. Privilegie livros que tratem da nossa realidade, da história brasileira. Repare bem, a maioria dos livros trazem capítulos e mais capítulos sobre história geral. A história do Brasil fica espremida em poucas páginas. Vai por mim:  os alunos de hoje têm muito mais curiosidade sobre o Brasil Africano, por exemplo, do que sobre a formação do feudalismo.

6. Leve em conta como você trabalha. Você é daqueles que utiliza apenas o livro didático em suas aulas? Então você deve realmente escolher um livro que ofereça muitas atividades e de preferência compatíveis com o conteúdo dos textos. E procure também analisar se essas atividades irão motivar seus alunos.

7. Uma outra opção para facilitar a vida é tentar escolher um livro que já foi adotado por você e por seus colegas, anos atrás, e funcionou muito bem. Todos nós guardamos planejamentos antigos. Quem sabe não é a hora de retomar aquela coleção que a editora resolveu relançar?

8. Não existe livro didático perfeito. Existe aquele que é mais adequado pra você e para seus alunos. O livro didático não é a super ferramenta que resolve todos os problemas pedagógicos. Ele é só mais um instrumento entre vários outros. Então, caro colega, escolha o melhor que puder. Afinal, serão mais quatro anos até a próxima escolha.

Boa sorte!

quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Férias imaginárias

Faz frio no país estrangeiro. Tudo que eu quero é me enfiar debaixo das cobertas e ler um bom livro, mas meu marido quer bater pernas pelo país estrangeiro. Ele quer ensinar à nossa filha de oito anos como explorar o mundo.

Um metrô que funciona nos transporta pela big city em questão de minutos, várias vezes ao dia. O ritmo é frenético. Minha natureza melancólica e preguiçosa sofre, mas a paisagem é tão linda, os lugares são tão interessantes, a comida é tão boa, que me rendo à caçada de surpresas com bom ânimo. Minha curiosidade vence. O livro fica pra depois.

A neve. Já tinha desisitido de conhecê-la. Linda, faiscante, fascinante e mortal. Depois de meio dia de sol e céu azul, o tempo fecha, a temperatura despenca e uma nevasca paralisa o trânsito nas montanhas. Resultado: seis horas dentro de uma van pra chegar ao hotel, e muito medo.

Museus, restaurantes, parques, shoppings (essa praga da qual não conseguimos nos livrar), as ruas e o povo. Um povo por quem um certo presidente deu a sua vida. Um povo sofrido como nosotros, los brasileños. Um povo gentil e reservado, que fala baixo, que não joga lixo no chão das ruas, bem educado. Um povo que merece menos desigualdade social como tantos outros no planeta.

Visito a casa do poeta, incrustada no alto de um cerro, na cidade dos cerros. A vista enche meus olhos e minha alma. O mar calmo, pontilhado de navios, abraça o horizonte. Sinto inveja do poeta e do seu cantinho pra escrever.

Em uma cidade vizinha, balneário dos ricos do país estrangeiro, um leão marinho dança no mar, próximo aos rochedos coalhados de gaivotas e outras aves. Um presente da natureza. Avisto pelicanos empoleirados em um piér e penso na poesia de Adélia Prado. O bicho é mesmo perfeito para o título de um livro.

Nossa filha vai aprendendo a explorar o mundo. E eu também.

Faz frio no país estrangeiro... mas é hora de acordar. As aulas já vão começar.

sexta-feira, 19 de julho de 2013

Enfim, férias!

Enfim, férias!Quinze dias longe daquela gritaria ensurdecedora dos pré-adolescentes. Duas semanas sem respirar aquele pó de giz hediondo que destrói meus cabelos e quebra as minhas unhas. Quinze dias falando baixo, sem precisar alterar a voz e sem ficar rouca. Duas semanas para ler o que eu quiser, sem a obrigação de ler livros didáticos chatos. Quinze dias sem  a buRRocracia que atrasa a vida.
Eu adoro as minhas férias! Boas férias para você também, caro colega!

terça-feira, 16 de julho de 2013

Férias à vista!

D. Margarida só pensa em férias! Ela está contando os dias, as horas, os minutos.

D. Margarida é muito boazinha: "passou" todo mundo. Para quê dar notas ruins para os alunos? Para quê? Quem realmente vai ensinar o valor da responsabilidade a eles é a vida.

Eu não sou Deus. Eu não sou Jesus. Não faço milagres. Mas acredito que eles possam acontecer. De vez em quando.

sábado, 13 de julho de 2013

Curso de capacitação dos professores


O curso de capacitação não foi ruim, nem inútil. Pelo contrário. Variou de bom a razoável. Mas há "poréns" na terra de ninguém.

A manhã foi dedicada à leitura e à  explicação da resolução deste ano, por uma inspetora. Pergunto: por que isso não poderia ter sido feito pelas diretoras nas próprias escolas? Muita gente também reclamou.

À tarde, uma ex- professora de português, hoje analista da SEE, falou sobre as possibilidades de se trabalhar textos de história com o objetivo de desenvolver competências e habilidades de Língua Portuguesa.

Trabalho nesse sentido. Sempre trabalhei. É claro que também ensino os conceitos históricos fundamentais e o raciocínio histórico. Mas sem o português, como ensinar história? As duas matérias andam juntas.

Alguns dirão que tudo não passa do óbvio ululante. Vi muita gente impaciente. No final eu já estava com uma dor de cabeça insuportável e doida para tudo acabar o mais rápido possível.

Balanço geral: Othon Palace. Restaurante Varandão. Uma bela vista do centro de Belo Horizonte. Comidinha boazinha, bons palestrantes, boa organização, etc... mas o que eu preciso realmente é que aumentem o meu salário! 

quinta-feira, 11 de julho de 2013

Erro na página da "agenda positiva".Teremos greve?

Adoeci. É a segunda gripe forte dos últimos trinta dias. O Dr. Drauzio Varela diz que quem gripa muito é porque não chora. É aquela teoria das causas psicossomáticas das doenças. Quem vive de aparências geralmente somatiza esse comportamento em dores que afligem partes do corpo. Indecisões atacam a pele. Quem tem dificuldade para expressar seus sentimentos tem problemas respiratórios. E por aí vai.

Motivos para chorar tenho de sobra. Às vezes, caem umas lagrimazinhas mixurucas que não dão nem pra borrar a maquiagem. Tenho medo ficar seca. De perder totalmente a sensibilidade. Meu ambiente de trabalho é tão brutalizado, os problemas com os quais me deparo todos  os dias são tão insolúveis, a realidade dos meus alunos é tão triste, que consciente ou inconscientemente armo uma barreira para me proteger de tudo isso. E como tudo na vida tem efeito colateral...

Graças a Deus, a "greve geral" desta quinta-feira me salvou do blá, blá, blá da capacitação que armaram para nós, professores. Amanhã ainda tem. Hoje não. Hoje tem assembléia. Amanhã teremos uma greve dos professores? Tomara.

No contexto de toda essa "agenda positiva", até agora não ouvi nenhum político dizer que os salários dos professores precisam aumentar. Ouço apenas falar em mais verbas para a a Educação. "Mais verbas" é um termo muito genérico. Na prática, muitas vezes, vira sinônimo de mais corrupção. Eu, que participo da comissão de licitação da minha escola, é que sei. Vejo muita coisa suspeita acontecer. Questiono, mas nunca dá em nada. Tudo vem amarradinho lá de cima. Com muitos laços buRRocráticos para fazerem os desconfiados desistirem no primeiro nó.

$Não existe Educação de qualidade sem valorização do professor$.

GREVE,GREVE,GREVE! POR MELHORES SALÁRIOS!

domingo, 7 de julho de 2013

Fim de bimestre e de semestre: "I´ll survive"

Sim, eu vou sobreviver.

Vou fechar todos os meus diários; vou preencher todas as folhas (inúteis) de Módulo II; vou comparecer (forçada) a uma convocação para uma oficina de aperfeiçoamento profissional promovida pela Secretaria de Educação, nos próximos dias 10 e 11; vou apresentar todo o meu planejamento para o próximo bimestre; vou ajudar a organizar e vou participar da festa junina da escola; e vou ler todos os livros de história que me foram enviados pelas editoras para escolher a nova coleção de livros didáticos que irá substituir a atual.

Sim, eu vou sobreviver.

sábado, 6 de julho de 2013

Enquanto "seu piso" não vem... greve!

Eu gostaria de saber por que o sindicato dos professores não negociou o piso proporcional de R$ 720,00, mais biênios , mais quinquênios, etc. quando o governo sinalizou que estava disposto a concedê-lo, em 2011? Qual foi a verdadeira proposta do governo em relação ao piso proporcional de 720 reais? Por que o sindicato não aceitou? Por que o governo voltou atrás e passou o rolo compressor do subsídio em cima de toda a categoria? O que deu errado?

Talvez, se o sindicato tivesse aceito a proposta do governo, mesmo que ela fosse desvantajosa naquele momento, talvez o piso ainda estivesse na pauta da luta dos professores. Conseguir um  piso capenga era melhor do que não conseguir nada. 

A verdade é que os professores  estão desiludidos com o sindicato. E o que é pior: estão desiludidos com a greve como forma de luta. Por outro lado, o salário está tão ruim que é bem capaz dos professores embarcarem de novo nessa jornada de tentar ressucitar o piso.

Eu já disse o que penso neste blog. Para mim, devemos entrar em greve por melhores salários e por uma carreira, mesmo que seja dentro da tabela do subsídio. Sou a favor do piso, mas acho muito difícil resgatar toda aquela força que tínhamos em 2011.

A luta pelo piso deve continuar, mas é preciso que o sindicato também defenda reivindicações mais prováveis de serem atendidas. Qualquer melhoria salarial é bem vinda. Qualquer aperfeiçoamento daquela tabela hedionda do subsídio será bom para o magistério. Se quisermos aproveitar o rescaldo dessas manifestações que varreram o país durante a Copa das Confederações, o momento é agora. Se não fizermos greve agora vamos perder o bonde da história.

segunda-feira, 1 de julho de 2013

Greve, greve, greve!

E a tal greve geral desta segunda feira? Não deu em nada.

Finda a Copa das Confederações, os sindicatos se apressam para retomar o controle de suas categorias no rescaldo das últimas manifestações tipicamente anárquicas. No horizonte despontam promessas de greves  para dar continuidade ao movimento popular que botou os políticos para trabalharem para o povo brasileiro, e não apenas para eles próprios como era o costume.

Um jargão batidíssimo voltou com força total: "O povo unido jamais será vencido". 

Quero só ver se os professores vão ter coragem de entrar em greve depois dessa revolução. Quero só ver.

Eu, particularmente, sou super a favor de uma boa greve para tentar conseguir, pelo menos, a atualização da situação funcional de todos na tabela do subsídio, tanto na progressão horizontal, quanto na vertical. E também acabar com o congelamento e aumentar o salário em 50%. Se não der, temos que conseguir, pelo menos, um aumento de 35%. O salário é tão miserável que 35% equivale a 420 reais.

Para os meus caros colegas estrangeiros que sempre me acessam é bom esclarecer que um professor da rede pública estadual do terceiro estado mais rico do Brasil ganha o equivalente a 600 dólares por mês, ou, mais ou menos, 450 euros por mês.

Dizem que na Suiça um professor ganha 100 mil dólares por ano. Ai, quero morar na Suiça.

sábado, 29 de junho de 2013

O Currículo Básico Comum e o vandalismo


Vandalismo. [ Do fr. vandalisme.] S. m. 1. Ação própria de vândalo. 2. destruição daquilo que, por sua importância tradicional, pela antiguidade ou pela beleza, merece respeito. (Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa. Ed. Nova Fronteira)

O dicionário me parece desatualizado. Então escrevo no quadro um significado mais de acordo com o calor da hora:

"VANDALISMO. Ato de destruição de bens públicos e/ou privados."

E explico:

"Se eu pegar o meu caderno e rasgá-lo inteirinho é vandalismo?"

Um aluno se arrisca:

"Não".

"Por que?" pergunto.

"O caderno é seu".

"Exatamente. É meu. Mas se eu pegar livros da escola e rabiscá-los todos, estou cometendo um ato de vandalismo?"

"Ah, entendi!" disse M. com os olhos brilhando de compreensão.

"E na nossa escola, tem muitos atos de vandalismo? Quais? Por que alguns alunos praticam vandalismo?" Jogo as perguntas no ar e deixo que os alunos respondam, pensem, reflitam. Mesmo que todos falem ao mesmo tempo, não importa.

A sala de aula é a rua onde eu milito todos os dias.

quarta-feira, 26 de junho de 2013

Debate em sala de aula sobre o vandalismo que assola as manifestações populares

Turma de terceiro ano do ensino médio. Debate sobre as manifestações. Descubro que alguns alunos participaram da comissão de frente que ajudou a atirar pedras na polícia militar e a cometer atos de vandalismos durante as manifestações do último sábado. Por que?

"Quais são as propostas desses vândalos?" perguntou J.

"Cara, não é vandalismo. É revolta!" respondeu R., que participou  do confronto direto com a polícia.

"Como assim?" perguntei.

"Vandalismo é uma mãe passar quatro horas no posto de saúde com uma criança no colo. Vandalismo é corrupção", respondeu R.

"Mas quem são os caras que promovem essas ações?" perguntei.

"Tudo bandido, professora", disse D. "Tudo bandido. Eu mesma vi um que eu sei que é bandido."

Pode até ser que sejam bandidos, mas acho que tem de tudo naquele bolo de gente que põe toda a beleza da passeata a perder.

Na escola é a mesma coisa. Os vândalos e os aprendizes de bandidos são aqueles que não deixam a maioria estudar. A escola pública, em geral, é toda quebrada, suja, pichada e feia. Um ambiente horrendo. Para segurar os vândalos, as diretoras mandam gradear tudo. A escola fica com ares de prisão. Um terror absoluto.

E para piorar a (des) educação de nossas crianças e adolescentes, o ambiente, depois de destruído, continua destruído porque para se colocar uma simples porta em uma sala de aula é preciso enfrentar uma jornada licitatória buRRocrática e  longa. A papelada que precisa correr é tão extensa que a diretora desiste. E a escola vai ficando cada vez mais destruída. "Se já está quebrado, vamos quebrar mais um pouco", pensam os vândalos. E por aí vai.

Estou tão acostumada a ver cenas de vandalismo no meu dia a dia que, hoje, ao assistir às cenas horríveis da quebradeira que rolou na Av. Antônio Carlos, penso apenas que  escola e sociedade se espelham. Uma é reflexo da outra. Não me assusto tanto. Sinto tristeza. Infelizmente esta é uma realidade que vejo todos os dias.

domingo, 23 de junho de 2013

Futebol, alegria das elites

Há tempos o futebol deixou de ser uma espécie de ópio do povo. Nas últimas décadas ele se tornou um alucinógeno das elites. Afinal, são bilhões de reais, euros, dólares, libras, francos, pesos, marcos...etc.

sexta-feira, 21 de junho de 2013

Amanhã, dia 22. Vamos lá, caros colegas!

Proponho que todos os professores da rede estadual façam seus próprios cartazes para irmos todos juntos pra rua amanhã, sábado, dia 22.

Tenho algumas ideias para os dizeres dos cartazes:

Sou professora da rede estadual e mereço ganhar, no mínimo, 10 salários mínimos.

$ Não existe Educação de qualidade sem a valorização do professor $

Salário digno já!

Basta de governos incompetentes e ineficientes!

O Brasil é ótimo, mas o serviço é péssimo!


Com ou sem cartaz, o importante é comparecer, caro colega!

quinta-feira, 20 de junho de 2013

Caros colegas, vamos para a rua!

Caiu a liminar do Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, cujo único objetivo era o de impedir que o Sind-UTE promovesse manifestações nesses dias de Copa das Confederações. É bom dizer que a greve dos professores por tempo determinado já tinha sido decidida desde o último dia 5, em assembléia. Agora não tem mais multa de 500 mil reais se algum integrante de entidade de classe for flagrado em alguma manifestação de rua.

Vamos lá, caros colegas! Quero ver 100 mil professores da rede estadual nas ruas protestando por melhores salários, por melhores condições de trabalho, por uma Educação verdadeira e de qualidade!

Dia 22, sábado! Vamos ficar de olho no site do sindicato pra saber onde e quando. Vamos aproveitar pra surfar nessa onda de protestos que veio em boa hora. Deixem o medo, as desilusões, as preocupações, a deseperança, o desânimo em casa e vamos para a rua! Levem cartazes, faixas, máquinas fotográficas e muita coragem para exercerem o papel de cidadãos com direito legítimo de protestar!

E para os puristas que acham que esse movimento não pode ser partidário ou sindicalista, saibam que as manifestações dos professores já estavam marcadas. Tudo é uma feliz coincidência. Espero que esses manifestantes nos apoiem, pois o que nós, professores, mais precisamos neste momento é do apoio da sociedade brasileira.

quarta-feira, 19 de junho de 2013

Eu quero militar, mas o sindicato não deixa.

Quando digo que a coisa é atrasada ninguém acredita. Não tem nem um canal de compartilhamento no site do sindicato dos professores. Eu gostaria de compartilhar nas redes sociais  a discussão sobre a liminar do TJ proibindo qualquer manifestação do sindicato no entorno do Mineirão, mas não dá.  Vou ter que ler, fichar, reescrever a nota do sindicato. Até lá a Copa da Confederações já acabou e essa oportunidade maravilhosa de contribuir para potencializar a mobilização dos professores nessa onda de protestos foi perdida.

Eu não entendo. Todo site de notícias tem um ícone de compartilhamento. Por que o site do sindicato dos professores não tem? Assim fica difícil militar. Ainda mais em tempos de revoluções digitais.

Helloooo! Vamos acordar, categoria?

terça-feira, 18 de junho de 2013

Manifestações populares antigas e recentes no País do Futebol

D. Margarida é quase uma dinossaura. Ainda adolescente contribuiu para a fundação do PT mineiro. O PT naquela época era a vanguarda da esquerda brasileira que lutava contra a ditadura militar. Hoje o PT é essa coisa, essa gosma, essa cara sem rosto definido, sem coragem de  assumir as mudanças necessárias. Acomodou, coitado. Rendeu-se à necessidade das grandes obras. As pessoas, o povo e a  construção de uma identidade nacional baseada em mais igualdade, mais justiça social, mais educação, mais saúde ficou pra depois. Para depois do pré-sal. Mas naquela época o PT era o máximo. Era a vanguarda política. Tinha gente animada, bonita, interessante e pensante, que é o mais importante.

Depois veio a grande Campanha pelas Diretas Já. O grande comício que, segundo alguns, reuniu um milhão de pessoas na avenida Afonso Pena, em Belo Horizonte. D. Margarida estava lá, na fila do gargarejo. A bandeira do Brasil, empunhada por seu colega, ao seu lado, ganhou a primera página do jornal Diário da Tarde. Um sucesso!

Teve a morte de Tancredo Neves, mas D. Margarida preferiu não ir ao velório. A decepção pela derrota da emenda Dante de Oliveira tinha sido demais pra ela. Estava desencantada. Resolveu então, anacronicamente, desbundar. E foi fazer teatro.

Em 1989, voltou à ativa, militando pela vitória de Lula pra presidente. Lutou, panfletou, tentou convencer os amigos, mas a praga do Collor venceu. Uma desgraça! Talvez a pior de todas. Após meses de sofrimento,  foi com muito prazer que ela participou de todas as passeatas, movimentos e manifestações pelo impeachment daquela criatura das trevas. E quando aquele monstro caiu do cavalo do poder d. Margarida achou pouco e bom.

E o tempo passou. E d. Margarida voltou pra universidade. E a melhor coisa que D. Margarida fez na vida foi voltar pra universidade. Na faculdade ela participou de um Diretório Acadêmico deliciosamente anárquico chamado "Todo Mundo". Os (não) diretores eram do curso de Filosofia. D. Margarida cursava História, mas andava  com os estudantes de Comunicação e da Filosofia. Ótimas lembranças. 

E o tempo passou de novo e mais rápido. D. Margarida se formou e resolveu virar professora de escola pública. (Meu Deus, onde ela estava com a cabeça?) E foi aí que começaram os choques com a realidade nua e crua. Porque antes era só a vida mansa de estudante universitária que fazia bicos de produção cultural pra sobreviver. Depois, caro colega, é que a real bateu com força à porta da consciência de d. Margarida.

Ah! A escola pública! Especialmente a estadual. É de doer os ossos. É onde a criança berra e ninguém escuta. Reino da ignorância, do atraso, da mediocridade. Crianças e adolescentes inteligentes e maravilhosos massacrados todos os dias pela incompetência e pelo desinteresse do governo do Reino da Província em oferecer uma escola no mínimo humanista para os filhos desse povo que rala em troca de um salário mínimo escravocrata.

Educação, saúde e segurança é o básico do básico. Mas nem isso nossos governantes são capazes de oferecer de forma decente, eficiente e competente. Após participar de inúmeras greves de professores mais ou menos fracassadas (a impressão que sempre fica é a de que avançamos um passo e retrocedemos três), d. Margarida ficou mais seletiva quanto a ir pra rua pra protestar.

Então é com muita alegria e esperança que ela assiste as manifestações populares dos últimos dias. Após o terror da repressão policial das primeiras manifestações em São Paulo, é bom ver que o povo faz valer o seu direito de ir às ruas e dizer NÂO para a truculência da polícia. As pessoas mostram que não têm medo, que não estão satisfeitas com muitas coisas. E isso é bom.

Quem sabe o exemplo desse movimento passe a motivar mais os professores (que ficaram em casa) a irem às ruas lutar por seus direitos? Ou simplesmente mostrar que não estão satisfeitos? Essa coragem é saudável e necessária. 

D. Margarida tem um sonho. No seu sonho 100 mil professores tomam as ruas de Belo Horizonte reivindicando melhorias salariais. Quem sabe esse sonho já começou?


domingo, 16 de junho de 2013

Pauta de reivindicações dos professores ou do sindicato? Parte II, ou A pauta de D. Margarida

Após reler a pauta de reivindicações no site do sindicato com calma e atenção, posso dizer que a pauta é excelente. Extensa demais, mas excelente. A crítica que faço é que a principal questão se perde no meio de tantas outras.

Para d. Margarida a questão primordial é o aumento salarial. A pauta de reivindicações de d. Margarida se resume basicamente à luta por um salário digno. Não existe, nem nunca existirá Educação de qualidade sem a valorização do professor. E valorização significa aumento de salário.

Agora, "salário digno" pode ser interpretado de várias formas. Para o governo, nós ganhamos acima do "piso". O sindicato, por sua vez, construiu essa pauta quilométrica de reivindicações talvez pra esconder a questão principal. O sindicato ainda espera ressucitar o "piso salarial profissional nacional". Quem sou eu para agourar a fé do sindicato? Mesmo porque trata-se apenas de uma questão de fé,  já que politicamente o "piso" é uma ilusão.

Preste bem atenção ao que vou lhe dizer, caro colega. A luta pelo "piso salarial profissional nacional" é  uma luta insana. O que a Confederação Nacional dos Trabalhadores em Ensino (CNTE) quer é que os governos estaduais abram mão da autonomia de decisão sobre a política salarial para o magistério em seus estados. O sindicato quer  que os governadores simplesmente obedeçam ao governo federal. No fundo, no fundo é uma briga mesquinha entre PT e PSDB, entre o PT e outros partidos. Não rola de ficar no meio disso esperando uma decisão judicial que pode demorar décadas.

Digo e repito: a população não entende nada de "piso". Melhor seria se falássemos a língua que o povo entende: salário mínimo. Dessa forma, talvez, poderíamos causar algum estrago na imagem de alguns futuros candidatos das próximas eleições. Dessa forma, talvez, poderíamos conseguir algum resultado, alguma merreca de aumento. Talvez os governos estaduais até aceitem conceder o "piso" em troca de alguma coisa como, por exemplo, em troca da renegociação das dívidas dos estados com a união. O que quero dizer é o seguinte: política no Brasil é a arte da barganha. Ninguém está preocupado em oferecer saúde e educação de qualidade para o povo. Se vier o "piso" será em troca de alguma coisa. Alguma coisa grande. Não se iluda, caro colega.

Enquanto "seu piso" não vem, a pauta prioritária de d. Margarida é a seguinte:

a) Aumento salarial de 100%, o que equivale a um vencimento básico de quatro salários mínimos por cargo.

b) Revisão e correção imediatas do posicionamento dos professores na famigerada tabela do subsídio, respeitando-se tempo de serviço, grau de escolaridade e a devida correção salarial em função disso. Fim do congelamento dos salários.

c) Férias prêmio para todos. Se o sujeito tem 1 ano de férias prêmio acumuladas para gozar, que seja dado a ele a opção de gozar os 12 meses ininterruptamente. O que o estado faz é picar as férias prêmio do servidor e os alunos é que sofrem, pois têm que se submeter a trocas constantes de professores. Coisa mais antipedagógica!

d) Pagamento de adicional de periculosidade para profissionais que atuam em áreas de risco.

e) Aumento do percentual de progressão vertical na carreira em função da escolaridade e imediata aceitação da promoção por escolaridade em todas as situações funcionais. Hoje, o professor que gastou 5 mil reais para fazer uma especialização só vai conseguir recuperar o investimento em 5 anos, no mínimo.

Bom, só isso já é muito difícil de conseguir. Quase impossível. Mas como bons idealistas que somos (senão não seríamos professores) espero que um dia possamos ser considerados parte da sociedade. Porque até agora somos profissionais marginalizados do ponto de vista salarial.

Força na peruca! A luta continua!

quarta-feira, 12 de junho de 2013

Pauta de reivindicações dos professores ou do sindicato?

A pauta de reivindicações do sindicato é tão extensa que dá até "mêda". O que realmente importa para nós, caro colega, fica perdido no meio de tantas propostas, muitas delas de competência das diretoras das escolas.

Sim, as escolas têm autonomia desde que suas diretoras conheçam a legislação de modo mais completo e mais abrangente que as inspetoras e demais funcionários da Secretaria de Educação. Diretora boa de serviço ninguém dobra, nem ameaça. Mas, infelizmente existem diretores que fazem o jogo da Secretaria de Educação. São seres capachos, coitados. São  seres iludidos pelo poderzinho que lhes foi concedido. No fundo, eles odeiam os professores. Se sentem superiores, pobrezinhos. Que peninha!

Voltando ao assunto da pauta de reivindicações, d. Margarida tem uma outra pauta mais objetiva, mais enxuta. Uma pauta que atinge mais diretamente os pontos nevrálgicos atuais da situação doentia do magistério estadual. Este será o assunto da minha próxima postagem. Agora tenho que ir dar as minhas aulas. Estou atrasada.

sábado, 8 de junho de 2013

A militância imaginária

Leio no jornal uma crônica do Arnaldo Jabor  em que  ele escreve sobre o "militante imaginário", uma expressão, segundo o autor, cunhada por José Arthur Gianotti.

Mas quem é o "militante imaginário"?  Segundo Jabor, o "militante imaginário" é aquele que sonha com uma revolução, que deseja e defende grandes mudanças sociais e políticas, que se afirma como uma pessoa de esquerda, mas que não move uma pedrinha sequer em qualquer direção em prol de seus ideiais. Ao "militante imaginário" basta ter idéias. Ele sonha "com uma vitória sem lutas".

Nós professores, caro colega, em nossa imensa maioria, somos todos "militantes imaginários". Sonhamos com um bom salário, mas não fazemos nada no nosso dia a dia para consegui-lo. Nem mesmo corremos atrás da regularização da nossa situação funcional. Também não buscamos conhecer a legislação para conhecermos melhor os nossos direitos. Não questionamos as ameaças  das  inspetoras, repetidas pelas diretoras "papagaias" em cima das nossas cabeças. Em geral, somos contra as greves porque pensamos apenas na obrigação da reposição das aulas.  Como se a Secretaria de Educação tivesse à sua disposição um batalhão de inspetoras para dar conta de fiscalizar minuciosamente todas as escolas estaduais de Minas Gerais!

Mas uma coisa, nós, professores-militantes-imaginários fazemos muito bem: viramos madrugadas para entregar os diários no prazo correto. Ufa! E, quando conseguimos, nos vangloriamos de sermos excelentes profissionais. Não é assim? Outra coisa que desejamos do fundo do nosso coração é que, um dia, o governador acorde de bom humor e resolva nos dar um aumento salarial decente, o suficiente  para dignificar a nossa profissão. Assim, da noite para o dia.

Você pode me dizer: "EU NÃO!! EU NÃO SOU ASSIM. EU LUTO. EU PARTICIPO DAS ASSEMBLÉIAS, EU ME ENVOLVO, EU QUESTIONO".Ok! Eu acredito em você. Eu também não me dobro facilmente. Nem me iludo.

Helloooooo! Vamos acordar, categoria? Vamos parar com essa militância imaginária? Vamos fazer o nosso dever de casa direitinho? O para casa dos professores é um só: greve, greve, greve! Mesmo que seja por tempo determinado como quer o sindicato.

segunda-feira, 3 de junho de 2013

Assembléia dos professores, dia 05 de junho - Indicativo de Greve

Pelo amor de Deus, se tem alguém em dúvida se deve paralisar ou não no próximo dia 05 de junho, por favor, coloque a mão na consciência e pense.

Ganhávamos 01 salário mínimo. Fizemos uma greve e passamos a ganhar 01 salário e meio. Depois veio a grande greve pelo Piso e passamos a ganhar 02 salários mínimos através do "suicídio da carreira".

Pense bem, caro colega. Se fizermos uma greve, talvez nosso salário chegue a 02 mínimos e meio. Vamos pedir 04 salários mínimos por cargo. Quem sabe a gente passa a ganhar 03 mínimos?

Se ficarmos submissos, pensando nas aulas que vamos ter que repor, aí é que não vamos ganhar nada mesmo.


sexta-feira, 31 de maio de 2013

Como resolver o problema da violência nas escolas públicas?

A maioria dos alunos não causa problemas de indisciplina além daqueles normais como brincar, conversar e agitar a sala. Figurinhas, celular, papeizinhos voadores, tudo isso é fácil resolver. Afinal, são crianças.

O problema maior são aqueles poucos (na verdade muito poucos) alunos que estão no limite entre fazer a coisa certa ou embarcar na nau da revolta, do vandalismo, das agressões e da irresponsabilidade.

Para esses a escola deve ter uma postura firme. Fazer relatórios e chamar os pais. Registrar e documentar tudo, todos os atos infracionais. Para esse menino, ou menina, antes que entrem efetivamente para a vida pesada do crime, o ideal seria que se montasse uma força tarefa: assistentes sociais, psicólogos, policiais, escola e família. Os pais têm que ser chamados à responsabilidade de terem colocado um ser humano no mundo. A família deveria ser obrigada a frequentar um programa de readequação de posturas. A família, ou o que sobrou da família desse aluno, tem que receber apoio, mas também tem que assumir compromissos perante a sociedade. Qual é o problema? Por que esse menino está tão revoltado? O que os adultos podem fazer por essa criança? A família tem condições de prover o bem estar  dessa criança? Não? Por que?  Sob ordem judicial, a família deveria ser obrigada a participar de encontros com profissionais de uma equipe multidisciplinar, para tentar prevenir ou reverter a escolha desse menino pelo caminho da violência e da criminalidade.

A escola seria uma parte dessa ação conjunta. Deixar apenas nas mãos da escola, apenas nas mãos dos professores, todo o peso da responsabilidade pela formação e pela educação de uma criança, pré-adolescente ou adolescente, que já se encontra praticamente cooptada pelo submundo da criminalidade é uma ilusão. O governo tem responsabilidades! Jogar a culpa da violência que domina a escola pública nas costas dos professores é ridículo e cruel. "Ah, os professores devem tornar suas aulas mais interessantes!" Não é esse o discurso? Por mais criativo e vocacionado que um professor seja, estudar e aprender são atividades que demandam esforço. Nem sempre esse esforço é prazeroso. O adolescente deve aprender a conviver com as frustrações normais da vida, porque tudo na vida tem um lado não agradável. A escola pode muito, mas não pode tudo. Não dá pra ficar idealizando a Educação. Não sou a favor da judicialização da Educação, mas gostaria de poder contar com um programa de assistência social que fosse além da transferência de renda.

O que vejo no meu dia a dia são alguns poucos alunos (apenas 10%) infernizando a vida de todos os outros que querem aprender. Eles vão à escola somente  para praticar atos de vandalismo, para agredir os colegas gratuitamente, para desrespeitar os professores. São princípios que eles adotaram para eles mesmos: detonar a escola, destruir, impedir que as aulas aconteçam, impedir qualquer ação positiva por parte dos profissionais da escola. Não são atos totalmente inconscientes. São bandeiras muitas vezes proclamadas. Eles tornam a vida escolar um verdadeiro inferno. E a escola não pode fazer nada, absolutamente nada para impedir esses "estudantes" de entrarem nas salas de aula do jeito que eles bem entendem, sem respeitar horários e regras. Eles entram e saem das salas o tempo todo.  E nós, professores, ficamos reféns deles.

O que a escola pode fazer? A escola, de acordo com a legislação, pode apenas registrar, chamar e conversar com os pais. Se o diretor conseguir convencer o pai ou a mãe a assinar a transferência do filho e também conseguir vaga para esse aluno em outra escola, os professores podem se sentir aliviados. Na maioria das vezes, os professores são obrigados a suportar o desrespeito desses alunos e gastam uma energia enorme tentando manter o processo de aprendizagem dos outros. Como o professor não vê nenhuma saída para a situação, ele passa a ignorar o fulaninho na esperança de que o menino modifique seu comportamento. E a situação piora. Adolescentes e pré adolescentes não querem ser ignorados. Pelo contrário. Na verdade, eles estão cansados de serem ignorados. Eles estão revoltados de terem suas necessidades sempre negligenciadas.

O governo do Reino da Província se diz "eficiente" e "competente", mas não tem nenhum bom programa para solucionar realmente esse problema. O poder público pensa que atender o menino com oficinas de arte basta para resolver o problema. A origem do problema é a família do menino. Mas nossa cultura política paternalista não permite que os governos chame os "cidadãos"  brasileiros à responsabilidade. Não se pode incomodar o cidadão. Não é vantajoso do ponto de vista eleitoral.

Os professores estão fartos dessa situação. Economiza-se com Educação e depois, obviamente, a médio prazo, gasta-se o dobro com Segurança porque aquele menino, que não foi assistido como deveria pelo poder público, se tornou um marginal perigoso. Não é a pobreza que gera a violência. É a ignorância e a falta de solidariedade.

terça-feira, 28 de maio de 2013

Cinema na escola pública: uma missão quase impossível

"Detesto passar filmes para os alunos. Eles não prestam atenção! Fazem uma bagunça danada. Por isso é que eu não passo nada pra eles."

Talvez a professora de português, que é mais experiente e mais vocacionada do que eu, tenha razão. As sessões de cinema que promovo no turno da tarde são sempre um caos, com algumas ilhas de silêncio e atenção. Pode ser o filme mais interessante do mundo que nem todos prestam toda a atenção que planejei. Mas eu insisto. Mesmo que eles quebrem o pau, conversem o tempo todo, joguem bolinhas de papel uns nos outros, mesmo assim, eu persisto na educação através do produto audiovisual.

Ontem inventei de passar  "A Missão" para os alunos do sétimo ano.

"Eu já vi esse filme, 'fessora'! Eu já vi."

"Onde?", perguntei.

"Na televisão."

"Não, meu anjo. Esse não é o tipo de filme que passa na TV aberta do Brasil. Você deve ter visto 'Missão Impossível', com o Tom Cruise."

"Ah é, foi mesmo", concordou o menino. "E esse aí, 'fessora' é sobre o que?"

"É sobre a catequização dos índios pelos padres jesuítas", resumi pra não confundir o menino.

"É sobre os índios? Igual aqueles índios que a senhora passou no ano passado? Como é que chamava? 'O fogo'?"

"A Guerra do Fogo. Mas aqueles não eram índios. Eram homens do Período Paleolítico. Lembra?"

Ah, é! Da hora. Tinha aqueles homens que pareciam macacos, aqueles outros que 'comia' gente. Esses daí também 'come' gente?"

"Não, penso que não. Os índios dessa história são os guaranis."

O diálogo ocorre durante a sessão. As questões surgem, e os interesses e desinteresses também. Tento ser flexível. Adianto umas cenas, chamo a atenção para outras, explico a história, resumo diálogos. É um caos desgastante, mas a vida deles também é assim. Famílias desestruturadas, negligências, abusos, violências, morte prematura dos pais, abandonos.  

Depois eles reconhecem que o filme foi bacana. Depois eles comentam. Eles se lembram da história. Mesmo no caos, alguma coisa fica. Alguma impressão fica marcada nas cabecinhas agitadas.

D. Margarida não tem a pretensão de ser uma professora perfeita que mantém a disciplina em todas as situações de ensino-aprendizagem. Ela não é capaz disso. Não tem talento suficiente, apesar de não ser uma "despreparada". Se houver aprendizado dentro de um aparente ou verdadeiro caos está valendo.

sexta-feira, 24 de maio de 2013

Ensino Médio ou Ensino Fundamental?

Minha validade de professora do Ensino Fundamental está acabando. Não tenho mais pique para  os pré-adolescentes. É muito esforço físico para dar conta da explosão de hormônios que agita uma classe. No meu caso são cinco turmas. Fico esgotada.

Para ser um bom professor de Ensino Fundamental é preciso ter muita paciência e uma boa didática. É preciso dispor de uma ampla e variada cartela de práticas didático-pedagógicas. Até acho que possuo um certo conhecimento nessa área. O problema é que, hoje em dia, dar aulas para esse público virou teste de resistência física.

Como também sou professora do Ensino Médio, ultimamente tenho colocado tudo na balança e sinto, cada vez mais, que a minha praia é dar aulas para os adolescentes. O diálogo flui melhor. Posso dar aulas expositivas, o que é quase impossível no Ensino Fundamental. A preparação das aulas é menos desgastante, pois os alunos mais velhos são capazes de se concentrar mais na leitura de um texto. Posso pedir trabalhos de pesquisa que eles se viram sozinhos.

No Ensino Fundamental professor tem que ser um pouco pai e mãe. Tem que ficar em cima: "Faça a atividade, fulaninho!" "Nossa, que letra é essa? Vamos caprichar mais um pouquinho?" "Salte uma linha pra separar uma questão da outra!" "Vamos fazer um colorido bem bonito no mapa!" "Pare de andar sobre as carteiras, menino!" E eu sou do tipo que dá visto em todas as atividades. Costumo dar 10 pontos no caderno para incentivá-los a fazer as atividades. Sem falar no português. Como professora de história sinto-me  na obrigação de corrigir, pelo menos, os erros ortográficos. É cansativo.

Por outro lado, no Ensino Médio posso fazer uma coisa que adoro: falar de política. Professor de escola pública que não aproveita as aulas para ensinar os alunos a votar está dando bobeira. Está perdendo uma ótima oportunidade de dar o troco nesse governo que não nos valoriza. 




quinta-feira, 23 de maio de 2013

Ainda o Módulo II

Pra que tanto papel? É uma folha para cada frase. Insanidade BURROcrática. Uma coisa é certa, vou ampliar meu "pedagogês".

segunda-feira, 20 de maio de 2013

Campeonato Mineiro na escola pública

No país do futebol toda segunda-feira pós decisão de campeonato deveria ser feriado escolar. Hoje foi aquela gritaria:

"Gaaaaaaaalooooooo!"

"Cruzeeeeeeeeeeeeeiroooooo!"

O Cruzeiro ganhou o jogo, mas perdeu o título para o Atlético. As duas torcidas, enlouquecidas, não pararam de gritar um minuto, a tarde inteira. A tarde inteirinha. Um inferno!

sábado, 18 de maio de 2013

Módulo II pra quê?

Essa coisa chamada Módulo II é bacana na teoria. Na prática, não vai pra frente. Professor precisa de independência. É normal. Esse controle que querem nos impor é um horror. Se tem que haver Módulo II, quem tem que estabelecer as regras são os próprios professores. Essa postura de controle é ridícula. A Secretaria de Educação trata os professores e diretores como alunos. "Se vocês não cumprirem as regras serão punidos!" O discurso é este. E o mais lamentável é que muitos  professores se submetem a essa humilhação de serem tratados como incapazes. A quantidade de papéis para preencher é interminável.

Hoje tem Módulo II. Não sei se vou comparecer. Tenho preguiça do ritual pedagógico. Aquelas mensagens que são distribuídas antes, tipo "mesmo que tudo esteja péssimo, sinta-se feliz" me cansam. Nas reuniões costumo dizer tudo o que penso francamente, por isso não sou bem aceita. Como as minhas ideias pedagógicas parecem loucas demais, recolho-me à minha insignificância e vou tocando a vida. Parto do princípio de que preciso ensinar meus alunos a interpretar um texto. Todo o resto é pretexto. Sigo o CBC adaptado à minha conveniência e à realidade dos meus alunos.

O Módulo II deveria ser um tempo gasto para decidir quais textos os alunos irão ler. Nós, caro colega, temos obrigação de selecionar bons textos. Bons textos, por favor! Só isso já melhoraria a escola pública. Acredito nisso. Despertar o interesse pela leitura. Todo o resto pode esperar.

quarta-feira, 15 de maio de 2013

A vida continua


"Professora, a senhora está aflita!"

"Não é nada, meu anjo. Não se preocupe. Estou com uns probleminhas. Nada sério." Respondi, enquanto agradecia: "Obrigada por me trazer de volta à realidade."

Após passar uma semana surtada de tanta ansiedade, acordei mais calma na última segunda-feira. Nada como uma segunda-feira para colocar a cabeça no lugar. A vida continua. Agora é esperar, ouvir os médicos e tomar as decisões certas.

Os alunos sabem quando não estamos bem. Eles sentem. Principalmente se já foram nossos alunos e nos conhecem. Nem todos, é claro. Apenas os mais sensíveis. Os outros continuam com exigências:

"Fala a nota aí, 'fessora'! Não vai falar a nota, não?"

"Ela nunca fala a nota!"

Falo sim. Apenas demoro um pouco mais para dar o resultado, porque tento até o fim fazer com que eles escrevam, pelo menos, mais uma linha; para que eles façam, no mínimo, mais um exercício; para que eu não tenha que manchar o meu diário somente com  notas vermelhas. Sou do tipo que tem compromisso com o sucesso dos alunos, mas eles também têm que fazer a parte deles. 

Crianças e adolescentes  precisam de professores tranquilos, calmos, pouco ansiosos. A ansiedade tem o poder nefasto de não nos deixar escutar o que o outro quer nos dizer. Ouvimos, mas não escutamos. A ansiedade nos deixa mergulhados e fechados em nossos próprios dramas. A ansiedade nos paralisa quando precisamos agir. A conversa não chega aonde deveria chegar. Graças a Deus, passou.

Cobranças e estresse assaltam a vida de todos os professores. O tempo todo. Talvez seja impossível vivermos totalmente livres disso. O salário também não ajuda. Mas, é como diz o Leminski, um poeta que amo de paixão:

"Pra que cara feia?
Na vida
ninguém paga meia".   

sábado, 11 de maio de 2013

Oráculo

Estou passando por um momento pessoal muito difícil. Problema de saúde na família. Quem já passou por isso sabe como ficamos desorientados diante do diagnóstico de uma doença grave. Alguns se agarram a Deus. Outros, a Jesus. Várias pessoas fazem promessas aos santos de devoção. E existem aquelas que preparam uma boa oferenda para os orixás. Em matéria de religião, não tenho preconceitos. É assunto que me interessa muito, historicamente. Quanto à minha fé, sei que fraquejo, mas procuro, de acordo com a demanda, respeitar o mistério profundo da vida e da morte.

No desespero, fui bater à porta de um oráculo. Muitos vão dizer que essas coisas de magia têm parte com o diabo. No entanto, é bom lembrar que houve um tempo em que pessoas eram queimadas vivas, em praça pública, em nome de Deus e da Cristandade. Graças a Deus e aos homens, esse tempo passou. Tenho muito medo dessas pessoas que vêem o demônio em tudo. Imagine, viver enxergando o lado ruim de tudo o tempo todo! Deus me livre e guarde!

O "cartomante" que me atendeu é meu amigo de longa data. Morávamos na mesma cidade. Ele foi aluno de minha mãe. Antes da sessão, conversamos um pouco. Ele me contou do seu amor pela  Arte e da sua vontade de realizar uma performance vídeo-teatral. Após descrever as cenas surreais e maravilhosas que imaginou, lembrou-se de minha mãe e do dia em que tomou contato, pela primeira vez, com a poesia romântica indianista:

 _  Sua mãe entrou na sala e disse: "Hoje vamos estudar Gonçalves Dias". E começou a recitar o poema "I Juca Pirama". Ela recitava o poema e chorava. E eu, vendo aquela mulher tomada pelo poder da poesia, também chorei. Naquele momento a Arte foi revelada a mim, porque na minha casa eu não tinha contato com a Arte, nem com a Poesia.

Meu amigo me contou essa história emocionado. Senti vontade de chorar também. Não é incrível o poder que um(a) professor(a) tem sobre seus alunos? As marcas são pra toda vida.



  

quarta-feira, 8 de maio de 2013

Quando o pau quebra (5)

É bom que fique claro, caro colega, que trabalho em uma das vinte piores escolas de Belo Horizonte. Ou do estado. No dia em que a professora de biologia comentou esse fato na sala dos professores tive uma crise nervosa de riso. Depois veio o terror de passar minha vida inteira nesse local insano de trabalho, e sem luz, sem lanterna, sem nem uma mísera vela para tentar encontrar o fim do túnel.

Hoje o pau quebrou, de novo. Um menino chutou a boca do outro caído no chão. Sangue para todos os lados. Gritaria, torcida, balbúrdia e caos. Os alunos (todos) saíram das salas (todas) em para ver a briga que aconteceu não sei aonde, mas parece que foi no pátio interno do andar de baixo.

Estou tão submersa nos meus longinquos pensamentos que nem reajo mais. Continuo impassivel a passar os exercícios no quadro. Atitude cínica, mas o que posso fazer? Quando a briga é dentro da minha classe entro no meio, separo, grito, xingo, faço as ocorrências, mando chamar pai e mãe, tomo as providências cabíveis. E ainda corro o risco de levar um socão no meio da cara.

D. Margarida tem medo de ser tragada pela onda de banalização da violência que inunda a escola pública estadual de periferia. D. Margarida tem medo de passar a achar tudo normal, que "não tem jeito", que "as coisas são assim mesmo". D. Margarida tem medo de se tornar uma velha resignada cheia de manias e "achismos".

domingo, 5 de maio de 2013

Conselho de classe

Para que serve um conselho de classe? Na teoria, pelo que sei, o conselho de classe serve para que os professores, reunidos, façam um balanço da situação das turmas, dos alunos, e decidam sobre questões referentes ao processo ensino-apredizagem, de maneira geral.

Entretanto, os conselhos de classe dos quais tenho participado se resumem a citar as médias alcançadas pelos alunos, enquanto as especialistas as anotam em um formulário. Será que não existe um programinha de computador para isso, não?

A intenção das especialistas é a melhor possível. Elas querem que os índices da escola melhorem. Elas se esforçam, mas a papelada sem fim acaba por afogá-las no mar da BURROcracia do Reino da Província. Uma papelada besta, sem sentido. Bastava uma ata do conselho. O resto, as notas, as médias, se perdeu, se ganhou, quem é destaque, quem não é, enfim, deixa tudo isso para um programa de computador. Aliás, é só usar o software do PAAE como modelo. Lança-se as notas e o programa fornece a sistematização dos dados em gráficos, incluindo o rendimento de cada aluno. Aí então, de posse desse material, as especialistas podem traçar uma estratégia, um planejamento, uma reunião mais produtiva.

É tão simples, mas o Reino da Província não quer saber da realidade. Ele quer viver da ilusão das propagandas dos seus feitos falsos na televisão.

segunda-feira, 29 de abril de 2013

Aplicação do PAAE 2013

Eu sei. Nada, absolutamente nada, justifica o valor miserável do nosso salário. Não adianta o governo dizer que não tem dinheiro, que não pode, que não tem jeito, que tem que respeitar a lei de responsabilidade fiscal, etc e etc, porque nós sabemos que para outras coisas tem dinheiro, e muito.

Um círculo vicioso é imposto à categoria do magistério. O professor sempre aparece na mídia como despreparado e responsável pelo fracasso da educação. Se a Educação vai bem, o mérito é do governo. Se vai mal, a culpa é do professor. Veja bem, isso é um discurso construído que favorece, principalmente, o poder executivo! Se o professor é um  incompetente, por que merece ganhar mais? No discurso construído  não adianta pagar bem ao professor porque se ele é um mau profissional, não será a carteira mais recheada que irá transformá-lo em um bom mestre. Na ótica dos governos fica mais barato oferecer cursos de capacitação em massa do que realmente valorizar o profissional através do reconhecimento do seu trabalho.

Ora, ora! Você sabe tão bem quanto eu, caro colega, que existem professores e professores. Como em toda categoria profissional existem os bons profissionais, os mais ou menos, os ótimos, os vocacionados, os ruins e aqueles péssimos! Tem de tudo! Até aí, tudo normal. O lado assustador da história é que tem professor que acredita no discurso construído e, apesar de ter competência e experiência para realizar um bom trabalho, passa a deixar pra lá, a empurrar com a barriga, a fazer tudo mal feito. 

Hoje presenciei uma aberração anti pedagógica. A avaliação de matemática do PAAE do ensino fundamental  foi aplicada nos dois últimos horários. E os alunos podiam ser dispensados após o término do teste. Resultado? Os meninos, que já estavam achando a prova difícílima, marcaram qualquer resposta no gabarito e cascaram fora. Fui tomar satisfação com a especialista.

"Esses meninos não querem nada com nada. Mesmo se a prova fosse no primeiro horário, você acha que eles iam responder?" respondeu a especialista.

Outro círculo vicioso. Os alunos não gostam de estudar, então não adianta o professor se esforçar. Os profissionais da escola não demonstram compromisso com a qualidade do ensino e depois cobram dos alunos a dedicação que eles mesmo não oferecem às crianças e aos adolescentes.

Que lama, heim colega! Que lama!

quarta-feira, 24 de abril de 2013

Paralisação dos professores

"Hoje tem assembléia?
Tem, sim senhor!
E o professor, o que é?
É..."

Eis a questão: quem somos nós, caro colega? Qual é o nosso papel nessa nova sociedade da informação, da tecnologia e do consumismo?

Paralisação no final do bimestre é um presente, você não acha? Três dias para corrigir toneladas de provas e exercícios e para fechar os diários. Aproveitamos o recesso político de outra forma, trabalhando em casa.

Não, eu não fui à assembléia, mas gostaria de ter ido. Soube que há um indicativo de greve para o início de junho. Sou a favor. Entretanto, minha pauta de reivindicações é um pouco diferente daquela do sindicato.

Em primeiro lugar, penso que deveríamos balizar nossas reivindicações salariais pelo salário mínimo. Motivo: a população não entende nada de "piso salarial", mas se você disser que o seu salário é igual a dois salários mínimos e que você deseja ganhar três salários, o povo vai entender, comentar e apoiar os professores.

Em segundo lugar, concordo com o sindicato em relação às aulas de exigência curricular obrigatória. Fui uma vítima. A escola poderia ter me dado as 16 aulas, mas obrigaram-me a assumir duas aulas obrigatórias. E até hoje não recebi por elas.

Em terceiro lugar, professor tem que entender de legislação. As pessoas vivem imersas em "achismos". Tornam-se, dessa forma, em jargão político desgastado, "massa de manobra" não só de propostas de lutas natimortas, mas também de algumas especialistas, vice-diretoras e diretoras que aterrorizam os professores com ameaças sem fundamento jurídico.

O sindicato faria um bem enorme à categoria se promovesse periodicamente cursos de conscientização jurídica abertos aos professores. Dessa forma estaria cumprindo a pauta revolucionária clássica, fortalecendo as bases.

Devemos começar a pensar em uma nova greve.  

sábado, 20 de abril de 2013

Resultados do PAAE

Aos quarenta e quatro minutos do segundo tempo consegui inserir todos os dados dos meus alunos no sistema do PAAE. Sistema de avaliação interessante. Desejo explorá-lo melhor. Gosto quando a educação mineira avança em tecnologia.

Meus alunos estão dentro da média da escola. Quase 50% de acertos. É um nível baixo. Mas o que fazer se insistimos em ensinar uma história europeizada? Afinal, somos fruto da cultura europeia também. Entretanto devemos ter como foco a história brasileira. É basicamente a história do Brasil que cai em todas as avaliações sistemáticas dos governos estadual e federal.  E se essa história mantém links com a história dos outros continentes façamos os downloads necessários para o entendimento do contexto nacional e ponto final.

Nada de torturar os alunos com a formação da Grécia arcaica, ou com detalhes da formação do feudalismo, impérios carolíngio e merovíngio, etc. Bobajada. Eu, por exemplo, resumo a Idade Média ao fortalecimento da Cristandade e já caio na Reforma Protestante que os alunos adoram porque são quase todos evangélicos.

É preciso reescrever tópicos do livro didático pra que os alunos aprendam melhor. É preciso que o professor de historia seja mais que um professor. É preciso que ele também seja um historiador.

sábado, 13 de abril de 2013

Como levantar a autoestima dos professores?

Desde mocinha, sempre frequentei salões de beleza. Adoro. Acho uma terapia. Levanta a autoestima e o visual.

Não sou tão assídua quanto gostaria por razões óbvias de falta de dinheiro. E também não tenho paciência pra testar todas as novidades para os cabelos, nem toda a cartela de cores de esmaltes. Vou mais por necessidade que por futilidade. Sim, ir ao salão de beleza é um item de primeira necessidade para as mulheres, em geral.

Detesto salões impessoais, desses que têm alta rotatividade de clientes e funcionários. Preciso que role uma empatia, uma amizade com a cabelereira e com a manicure, porque o bom de se ir ao salão de beleza não é sair de lá apenas linda e maravilhosa, mas também com alguns conselhos valiosos na necessaire: dicas de moda, dicas de beleza, dicas de produtos, dicas sobre os homens, dicas sobre como educar melhor os filhos, etc. A literatura das revistas femininas é debatida em alto nível durante uma sessão no cabelereiro. 

 T. é uma cabelereira muito bonita, elegante e ótima profissional. Ela aguenta minhas lamúrias do magistério com a maior paciência. Outro dia fui pintar as madeixas. O papo foi caminhando, caminhando, caminhando, e lá estava eu a reclamar dos alunos insuportáveis:

"Passei um exercício no quadro e pedi aos alunos para procurarem as respostas no texto. O menino passou perto de mim e sussurrou 'procurar é na bu... da professora'. Que ódio! Aí eu coloquei a minha mesa na porta pra evitar o entra e sai de alunos, porque na sala de aula não tem porta. Foi arrancada pelos vândalos. Ele ficou do lado de fora. Falei pra ele entrar. Aí ele falou, baixinho: 'só tem professora vagabunda nessa escola'. O que eu faço com esse menino?"

"Quantos anos?", perguntou T.

"Quatorze, quinze", respondi.

O conselho da cabeleireira foi poderoso:

"Esse menino está querendo se afirmar. Adolescente querendo se afirmar como homem é assim mesmo. Fala essas bobagens pra chamar atenção. Menino é assim. É o jeito que ele achou. Você, como professora, está com a faca e o queijo na mão. Chama esse menino, conversa com ele, mostra pra ele. O poder está com você. Esse menino, coitado, nem sabe o que está fazendo. Está nas suas mãos mostrar pra ele como as coisas são, o que é certo, o que é errado".

Sai do salão com a autoestima no céu.

domingo, 7 de abril de 2013

Monotonia

Nada de novo no front. A vida na trincheira está um tédio. Na sala dos professores os papos continuam os mesmos: "os alunos não querem saber de estudar", "não querem saber de nada". A escola continua desorganizada. Imagine você, caro colega, eles conseguiram errar o meu salário! Recebi metade do que deveria ganhar. Não sei como vou fazer para pagar as contas este mês. Vou ter que pedir um empréstimo. Estou quase desejando uma greve. Uma bem boa, que me faça sair de casa para participar das assembléias.

Quem me diverte mesmo são os alunos. Eles são a melhor parte dessa história. Ser professor é ótimo. A profissão é boa, uma das melhores. O problema é o governo.

domingo, 31 de março de 2013

Esmola de produtividade

Eu disse, não disse? Eu disse. R$ 735,00 (setecentos e trinta e cinco reais) foi o valor que recebi como prêmio de produtividade. Nem mil reais! Nem milzinho!

É ou não é uma esmola, caro colega? Ai, que depressão!

terça-feira, 26 de março de 2013

Prêmio de produtividade ou esmola de produtividade?

No Reino da Província, o príncipe maquiavélico instituiu um prêmio de produtividade. Alguns o chamam de 14º salário. Na verdade é uma esmola. Serve pra enganar os trouxas que acham que governos no Brasil são bons.

Dois salários mínimos. Mil e duzentos reais (valor líquido) é quanto ganha um professor da rede pública estadual em Minas Gerais. A esmola de produtividade, este ano, será igual a 80% do valor do salário. Uma merreca.

Sabe o que eu queria, caro colega? Eu queria que fosse instituído um prêmio por assiduidade equivalente a duas vezes, pelo menos, o valor do salário. (Uma merreca também!) Você seria premiado? Eu seria, pois aos trancos e barrancos, consigo ser assídua. Gostaria de ser premiada pelo meu esforço de suportar o ambiente escolar sem fraquejar. (Mentira: eu fraquejo, surto, brigo...mas vou. Me arrastando, mas vou).

A verdade é que nesses mais de dez anos de magistério, tirei licença médica pouquíssimas vezes. As poucas vezes foram por motivos psiquiátricos:

- O que está acontecendo? - perguntou o médico.

- Não sei, doutor. Só sei que sinto ódio da diretora, ódio da supervisora, ódio de ter que ir à escola., ódio...

Ganhei 20 dias de licença. E isso foi há muito tempo.

Bom, que venha a esmola de produtividade. Vou pagar o meu cartão de crédito atrasado que o salário de fevereiro não deu pra pagar. O que sobrar, se sobrar, vou comprar um bom pedaço de bacalhau e ovos de páscoa. Chocolate, quando consumido com moderação, é ótimo pra evitar a depressão.

Feliz Páscoa, caro colega!

quarta-feira, 20 de março de 2013

Professores que piram (3)

Aconteceu em outra escola e deu na "rádio corredor", a preferida dos funcionários públicos.

A professora novata, ainda em estágio probatório, começou a surtar. Sem a experiência necessária para manter o controle da turminha de inocentes crianças de dez anos, e abandonada por quem deveria lhe apoiar (as especialistas), a pobre passou do carinho das inciantes ao ódio das deprimidas em menos de dois anos de magistério. Não era vocacionada. Tratava os alunos com rispidez e autoritarismo na ânsia de recuperar a disciplina perdida. As crianças logo passaram a odiá-la.

Um menino muito mimado era um que pintava e bordava em sala só pra irritar ainda mais a coitada. A professora, completamente bipolar, ameaçou espancá-lo. O menino contou para a mãe. A mãe foi tirar satisfações com a professora. A diretora, que já tinha conhecimento dos problemas da professora, chamou-a e aconselhou-a a mudar de atitude, a buscar ajuda, a tirar uma licença médica.

Mas a professora já estava tomada pela insanidade. Armada com uma pistola de cola quente, tocaiou o aluno na saída do banheiro. Assim que o viu, aproximou-se e encarou-o com fúria nos olhos:

- Olha aqui, pirralho - disse, mostrando a arma ao menino - se você falar mais alguma coisa pra sua mãe ou pra qualquer pessoa da escola, eu colo a sua boca! Você não me conhece! - ameaçou.

Crianças-mimadas-pelas-mães não têm medo de ninguém. A professora foi exonerada do cargo antes mesmo de se tornar efetiva.