terça-feira, 18 de junho de 2013

Manifestações populares antigas e recentes no País do Futebol

D. Margarida é quase uma dinossaura. Ainda adolescente contribuiu para a fundação do PT mineiro. O PT naquela época era a vanguarda da esquerda brasileira que lutava contra a ditadura militar. Hoje o PT é essa coisa, essa gosma, essa cara sem rosto definido, sem coragem de  assumir as mudanças necessárias. Acomodou, coitado. Rendeu-se à necessidade das grandes obras. As pessoas, o povo e a  construção de uma identidade nacional baseada em mais igualdade, mais justiça social, mais educação, mais saúde ficou pra depois. Para depois do pré-sal. Mas naquela época o PT era o máximo. Era a vanguarda política. Tinha gente animada, bonita, interessante e pensante, que é o mais importante.

Depois veio a grande Campanha pelas Diretas Já. O grande comício que, segundo alguns, reuniu um milhão de pessoas na avenida Afonso Pena, em Belo Horizonte. D. Margarida estava lá, na fila do gargarejo. A bandeira do Brasil, empunhada por seu colega, ao seu lado, ganhou a primera página do jornal Diário da Tarde. Um sucesso!

Teve a morte de Tancredo Neves, mas D. Margarida preferiu não ir ao velório. A decepção pela derrota da emenda Dante de Oliveira tinha sido demais pra ela. Estava desencantada. Resolveu então, anacronicamente, desbundar. E foi fazer teatro.

Em 1989, voltou à ativa, militando pela vitória de Lula pra presidente. Lutou, panfletou, tentou convencer os amigos, mas a praga do Collor venceu. Uma desgraça! Talvez a pior de todas. Após meses de sofrimento,  foi com muito prazer que ela participou de todas as passeatas, movimentos e manifestações pelo impeachment daquela criatura das trevas. E quando aquele monstro caiu do cavalo do poder d. Margarida achou pouco e bom.

E o tempo passou. E d. Margarida voltou pra universidade. E a melhor coisa que D. Margarida fez na vida foi voltar pra universidade. Na faculdade ela participou de um Diretório Acadêmico deliciosamente anárquico chamado "Todo Mundo". Os (não) diretores eram do curso de Filosofia. D. Margarida cursava História, mas andava  com os estudantes de Comunicação e da Filosofia. Ótimas lembranças. 

E o tempo passou de novo e mais rápido. D. Margarida se formou e resolveu virar professora de escola pública. (Meu Deus, onde ela estava com a cabeça?) E foi aí que começaram os choques com a realidade nua e crua. Porque antes era só a vida mansa de estudante universitária que fazia bicos de produção cultural pra sobreviver. Depois, caro colega, é que a real bateu com força à porta da consciência de d. Margarida.

Ah! A escola pública! Especialmente a estadual. É de doer os ossos. É onde a criança berra e ninguém escuta. Reino da ignorância, do atraso, da mediocridade. Crianças e adolescentes inteligentes e maravilhosos massacrados todos os dias pela incompetência e pelo desinteresse do governo do Reino da Província em oferecer uma escola no mínimo humanista para os filhos desse povo que rala em troca de um salário mínimo escravocrata.

Educação, saúde e segurança é o básico do básico. Mas nem isso nossos governantes são capazes de oferecer de forma decente, eficiente e competente. Após participar de inúmeras greves de professores mais ou menos fracassadas (a impressão que sempre fica é a de que avançamos um passo e retrocedemos três), d. Margarida ficou mais seletiva quanto a ir pra rua pra protestar.

Então é com muita alegria e esperança que ela assiste as manifestações populares dos últimos dias. Após o terror da repressão policial das primeiras manifestações em São Paulo, é bom ver que o povo faz valer o seu direito de ir às ruas e dizer NÂO para a truculência da polícia. As pessoas mostram que não têm medo, que não estão satisfeitas com muitas coisas. E isso é bom.

Quem sabe o exemplo desse movimento passe a motivar mais os professores (que ficaram em casa) a irem às ruas lutar por seus direitos? Ou simplesmente mostrar que não estão satisfeitos? Essa coragem é saudável e necessária. 

D. Margarida tem um sonho. No seu sonho 100 mil professores tomam as ruas de Belo Horizonte reivindicando melhorias salariais. Quem sabe esse sonho já começou?


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