segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Palavrinhas e palavrões (2)


Você, caro colega, deve estar farto de ouvir palavrões na sala de aula. É bom dizer que palavrões não são um  patrimônio cultural exclusivo das classes menos favorecidas. A sociedade brasileira adora um palavrão. Os políticos são os primeiros a dar exemplo: "porra", "caralho" e "filho da puta" fazem parte de seus discursos privados que frequentemente vazam no Youtube. Em inúmeras mesas dos bares da vida, já ouvi muitos palavrões da boca de advogados, médicos, economistas e até de professores. Eu também falo, mas confesso sentir um pouco de preguiça, pois acho a língua portuguesa muito rica e engraçada. Algumas palavras são ótimas, principalmente para espinafrar os políticos.

Na sala de aula, geralmente, escutamos muitos, muitos palavrões. Não bastasse o salário miserável, você é obrigado a ouvir palavras de baixo calão diariamente. Isso cansa a cabeça. Provoca depressão.

Pois muito bem. Um dia tive um insight, mas alguns vão dizer por aí que pirei.

Estava eu a dar uma aula, quando ouvi da boca de um aluno:

"Ô, 'bu...' !"

Imediatamente, falei:

"Ô, menino! Sabia que pra nascer você passou por uma 'bu...' ?"

A sala inteira caiu na gargalhada e começou a zoar o garoto. Com os olhos fora de órbita, ele respondeu:

"Que é isso, professora?"

 Expliquei:

"A da sua mãe".

 E para amenizar a situação em que o coloquei, emendei:

"Todo mundo aqui nesta sala passou por uma 'bu'... pra nascer. Inclusive eu."

Os alunos pararam de zoar e começaram a me olhar, meio rindo, meio cochichando, meio tentando entender o que eu estava tentando dizer. Até que uma espertinha disse:

"Eu, não. Minha mãe foi operada".

Não dei moleza:

"Mas pra entrar, entrou pela 'bu...'. Todos nós estamos aqui por causa das nossas mães. É a mulher que tem o dom de gerar uma nova vida no interior do corpo. E quando vocês se referem a essa parte do corpo da mulher com tanto desprezo, vocês deveriam pensar mais nisso: é uma parte importante do corpo da mulher, responsável pela geração de novas vidas".

Eles escutaram, pararam de zoar e até tive a impressão de que eles realmente compreenderam. Para finalizar a questão com chave de ouro uma garota disse:

"É, professora, mas não é assim que fala, né? Não é 'bu...'. O nome certo é 'vargínia', não é , professora?"

A partir desse momento nem me lembro mais o que respondi. Acho que a corrigi discretamente. No fundo, fiquei assustada com a minha coragem. Afinal, mães são sagradas. Imagine, falar da 'bu...' da mãe do aluno! Tudo poderia ter dado errado. Mas, graças à Santa Ana, deu certo. Nunca mais eles disseram esse palavrão. Pelo menos, não na minha aula. E a história correu a escola. E posso lhe afirmar que depois disso, 'bu...' se tornou um palavrão muito mais raro no ambiente escolar. Pra falar a verdade, nem o escuto mais.




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