domingo, 18 de dezembro de 2011

Sem título (4)

Não aguento mais ver papel na minha frente. A tal recuperação paralela é a fábrica primordial da cultura da impunidade que reina neste país. Aqui não se ensina ao povo a assumir a responsabilidade por seus próprios atos. Se isso fosse feito desde a mais tenra idade, na escola e na família, talvez em duas gerações haveria uma mudança significativa de mentalidade.

Os pais acham que só do filho ter acesso à escola que eles próprios não tiveram na infância e na adolescência já está de bom tamanho. Tive uma aluna que se formou no ano passado e  foi a primeira pessoa de toda sua família (incluindo tios, tias e primos) a completar o ensino médio. Os pais ainda não se preocupam, como deveriam, com a qualidade do ensino. Só de ter a escola já está muito bom.

Assim podemos dizer que 30% dos alunos não têm compromisso algum com os estudos. São "malandros". Frequentam a escola porque são obrigados. Eles praticam vandalismo, copiam os exercícios dos alunos mais inteligentes, matam aulas, ficam a zanzar pela escola, a importunar os outros que querem estudar, não produzem nada, conversam, desafiam os professores, enfim, agem como querem porque sabem que nada lhes acontecerá. Ao fim e ao cabo, receberão ainda muitas chances para "passar de ano". E não serão reprovados porque alguns professores preferem passar o aluno de ano a ter de lidar com ele no próximo ano letivo. São projetos de cidadãos que aprendem, desde cedo, a desperdiçar o dinheiro público. Aprendem a não ter respeito algum pela "coisa pública". Sim, porque escola pública custa dinheiro e dinheiro não dá em árvores. Não cai do céu.

E o governo brasileiro, paternalista como sempre, é incapaz de chamar os pais na responsabilidade. Se resolveu ter filhos, cuide deles, eduque-os, porque professor não está na sala de aula para ensinar o que é obrigação da família ensinar. Confrontar as classes mais populares não é interessante do ponto de vista eleitoral. a mentalidade que prevalece é "coitadinho do pobre". Coitados, sim. A vida deles é duríssima. a desigualdade social é algo a se combater neste país. Mas o pobre não é um coitadinho. É a mentalidade de toda sociedade que precisa mudar. Em relação a quase tudo.

 E a imprensa burguesa, elitizada, das principais revistas semanais do país, quando resolve publicar artigos sobre Educação, é sempre enfática em afirmar que a culpa da má qualidade é do professor "despreparado". A família nunca é responsabilizada, nem em parte. Afinal, "coitadinhos dos pobres"! A escola pública de hoje, com seu processo de progressão continuada é o berçário da cultura da impunidade que reina na sociedade brasileira. O Estado tem a obrigação de oferecer um sistema eficiente e humanista de planejamento familiar e também tem a obrigação de cobrar das famílias a responsabilidade básica de educar e cuidar de seus filhos.


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