sexta-feira, 22 de junho de 2012

Um pouco de justiça

Há momentos em que somente a autoridade da diretora da escola resolve o que precisa ser resolvido.

Depois de A. aprontar, pintar, bordar, borrocar, agredir, ameaçar, testar, desrespeitar e infernizar professores e funcionários, para muito além do limite do suportável, a diretora, enfim, tomou uma atitude. Mandou chamar a mãe e lhe disse:

"A senhora escolhe: ou assina a transferência do seu filho, ou a polícia vai levá-lo novamente para a delegacia de menores."

Nesse dia, o garoto tinha ameaçado um funcionário de morte. O mesmo garoto que tentou me agredir e me ameaçou semanas atrás.

Resultado: a mãe , coitada , com mais quatro filhos pra cuidar, preferiu não ter o dever de se apresentar ao juiz novamente. Assinou logo o documento de transferência do filho-problema-na-escola.

Que esse garoto seja muito feliz em outra instiuição de ensino, longe de nós. Que Deus me perdoe, mas mimha compaixão tem limite.

sábado, 16 de junho de 2012

Módulo (só se for lunar) 2

Reunião de Módulo II. Horário previsto: 8:00 hs. Horário de início: 8:45 hs. Normal. Eu já devia estar acostumada.

Os trabalhos começaram com objetividade. Fato raro. Problemas e possíveis soluções detalhados em power point. Muito bom. Pelo menos a coisa não ficou só no blá,blá, blá, como sempre. Enfim, algum progresso surgiu no horizonte.

Poupo o caro colega do elenco completo das questões apontadas e discutidas, afinal todas as escolas públicas têm problemas parecidos: violência, falta de compromisso, desorganização, buRRocracias da Secretaria de (des) Educação.

Um problema grave na minha escola é a péssima comunicação interna, mas entre todas as possíveis soluções sugeridas e apresentadas para esse problema, não foi citado, em nenhum momento O USO DA INTERNET.

Dá para imaginar uma escola com quase dois mil alunos e mais de duzentos funcionários que não utiliza ferramentas digitais para melhorar sua comunicação interna? Não há boca a boca, nem quadros de avisos que dêm conta de tantos recados e informações.

Coube a mim, atacada por uma crise de ansiedade aguda provocada pela abstinência de nicotina, apontar a falha. Alguém anotou no quadro: uso da internet. Pelo menos isso. Ficarei feliz e prometo lhe contar, em primeira mão, se algum dia receber um simples e-mail da secretaria da minha escola.



terça-feira, 5 de junho de 2012

Dias felizes

Na semana passada, me senti no céu ao lado de Deus. Três turmas me escolheram para madrinha da classe. Não faço a menor ideia das atribuições e responsabilidades do cargo, mas só de saber que os sextos anos indicaram meu nome, senti-me felicíssima. É um sinal de que os alunos gostam de mim e me consideram uma boa professora.

Professor é bicho maltratado. Ninguém valoriza. Ficar esperarando o reconhecimento dos colegas, da direção ou do governo é o caminho mais rápido para a frustração. É por isso que eu "garro" mesmo é com os alunos. É a relação que mais prezo. Xingo, dou meus xiliques, mas faço de tudo pra ensinar o conteúdo. Ensino também a ser gente, a ter consciência da selvageria do mundo e da própria falta de civilidade. Meus alunos aprendem. Não consigo dimensionar bem o quê, nem o quanto eles aprendem. Só sei que aprendem.

Um dos maiores elogios que recebi na minha vida foi em uma auto-avaliação que solicitei aos alunos. "Eu não sabia que tinha tanta inteligência", escreveu D.

Nem tudo é paz. Obviamente sou uma professora normal, cheia de manias, com meus altos e baixos praticamente subterrâneos. No dia a dia, quase sempre sinto-me no meio de uma guerra ingrata. A guerra da ignorância contra a possibilidade do conhecimento. E, quase sempre, a ignorância é a vencedora das batalhas cotidianas.

Mas em raras ocasiões, recebo a graça de preciosos momentos quando meus alunos e eu devoramos o fruto proibido do conhecimento sem cerimônia, sem culpa e sem medo de sermos expulsos do paraíso.