sexta-feira, 30 de setembro de 2011

O "oficiosso" nosso de cada dia

Hoje, na hora do recreio, a professora de português caiu em prantos porque não suporta mais a turma do 8C.

terça-feira, 27 de setembro de 2011

Sem título (3)

D. Margarida sofre de idealismo crônico e um pouco de burrice pois até hoje, depois de 10 anos de magistério, ainda não aprendeu a lição. Ela pensou que fosse chegar na escola,  hoje, e encontrar todos os trabalhos da Mostra Cultural expostos e enfeitando as paredes cinza-sem-graça.

Pois bem. Ela Encontrou as paredes nuas,como sempre, e todos os trabalhos amassados e amontoados na sala dos professores. Alguém pode, por favor, explicar para d. Margarida esse caso de descaso total?

Resposta absurda: as faxineiras tinham que limpar a escola e por isso retiraram os cartazes.

Pensei comigo: "os cartazes ficam colados nas paredes. O que isso tem a ver com limpar o chão?" Pensei, mas não disse nada. Estou em processo de invisibilidade e quanto menos polêmica provocar, melhor pra mim.

Tenho ou não tenho razão de ficar possessa da vida? As especialistas e vice-diretoras mandam parar a escola para fazermos um monte de cartazes para a Mostra Cultural. Nós, professores, nos dobramos e desdobramos para executar a tarefa e produzir alguma coisa minimamente inteligente. E depois de um sábado letivo com pouquíssimos alunos presentes, recolhem-se todos os trabalhos? Por que não deixar os trabalhos enfeitando a escola para cumprir a função deles que é apresentar informações? Não dá para entender.

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Diário de greve (10)

Muitas vezes sinto uma culpa terrível por não estar fazendo greve. Penso nos caros colegas que estão segurando essa peteca sozinhos, sem salário, sob ameaças, enquanto eu, tranquilinha na sala de aula, não tenho preocupações com o calendário de reposição, nem com o cheque especial.

Sinto culpa. E muitos colegas da minha escola também se sentem mal em relação a isso. Mas a decisão de não entrar em greve foi uma decisão coletiva, votada. Já tentei participar da greve individualmente. Não funcionou.

Peço desculpas aos caros colegas grevistas, corajosos, que não têm medo da luta.

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Hora do recreio (2)

Não há nada no mundo da escola que me irrita mais do que a imposição de um projeto pedagógico improvisado com prazo "para ontem" e sobre o qual os professores não foram sequer consultados.

Há apenas duas semanas, fomos informados em pleno recreio que o tema da Feira de Cultura  é a "saúde". E que os subtemas foram pré-determinados e sorteados, assim como as duplas de professores e as turmas com as quais cada dupla iria trabalhar.

Francamente. Morro de preguiça! Tenho que parar tudo pra atender às "ordens" das  especialistas.

O subtema que coube a mim e à professora de português foi "doenças da coluna vertebral".

Como d. Margarida é doida e gosta de complicar as coisas,  ela resolveu se rebelar e fazer um grande mural metafórico sobre "As Doenças do Brasil", com textos de criação coletiva  ilustrados com notícias de jornais e revistas.

As doenças do Brasil apontadas pelos alunos foram a desigualdade social, a violência, a corrupção e a agressão ao meio ambiente. Identificamos os sintomas e os alunos, agora, estão construindo textos para apontar atitudes de prevenção.

Vai dar trabalho, mas espero que fique bom. O que me anima é que todos estão colaborando e participando. Só por isso já vale o esforço.

domingo, 18 de setembro de 2011

Sem título (2)

Pedi aos alunos dos nonos anos que fizessem uma pesquisa sobre o socialismo e o comunismo.

T., 15 anos, escreveu (ipsis litteris):

"O que é comunismo?
O Comunismo é uma Escravidão, é a noite da tortura de uma Nação. É o Sistema de negação é o próprio Negativismo. Exemplo atual de Senzala Comunista: Cuba. fidel castro ditador Sanguinário, ídolo dos pervertidos, degenerados e terrorista.

O comunismo ou sua antesala, o Socialismo de todos os matizes nega a existência de Deus. Ou Seja. e o regime do ateísmo oficializado e permanente embora para fins diplomáticos aparente tolerância religiosa Mentira deslavada. o exemplo emtre muintos é a perseguição movida pela China Comunista contra os monges tibetanos. sua religião é o líder espritual o Dalai lama."


O texto não pára por aí. Tem mais. Cada pérola de assustar até fantasma. Mas poupo o leitor do resto desse discurso fundamentalista. Não sei o que fazer, nem que nota lhe dar.

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Diário de greve (9)

Acho ótimo manter a greve por mais alguns dias só pra quebrar o recorde de movimento mais longo da história do magistério mineiro.No entanto, fico pensando e matutando... será que vale a pena manter a greve por mais um mês? E se a Assembléia Legislativa aprovar o projeto do governador, o que faremos? Será que vale a pena manter a greve? Será que vale a pena aceitar a proposta esdrúxula do governo, por enquanto, e por fim à greve?

Vejamos. Há um ano, ganhávamos um salário mínimo e meio. Fizemos uma greve. Passamos a ganhar dois salários. Com a nova tabela do subsídio pode ser que cheguemos a três salários, no próximo ano. Querendo ou não, os R$ 712,00 de vencimento, prometidos pelo governo, devem significar algum aumento para quem tem biênios e quinquênios e ganha apenas R$ 369,00 como básico.

Eu só sei que com ou sem carreira, com ou sem subsídio, quero ganhar R$ 3.500,00 líquidos por um cargo de 24 horas! Ou seja, quero ganhar sete salários mínimos, no mínimo. Esse é o valor que merecemos.

O sindicato precisa ter mais visões a médio e a longo prazo. Por fim à greve agora não significa derrota. Significa que ganhamos mais um (pequeno) aumento, mais uma batalha. Outras batalhas virão e temos que nos preparar. Ninguém aguenta fazer greve todo ano.

Estou cética. Não acredito que esse governo sem vergonha vá ceder. Teremos que buscar nossos direitos na justiça. Em ações que demorarão longos anos...

Independentemente do resultado da greve de 2011, a luta continua.

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

D. Margarida, a cidadã

O tema da hora é a corrupção. Pois bem. Estou a ensinar aos alunos dos oitavos anos o que é corrupção.
Eles estão atentíssimos.

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Um dia como outro qualquer

Estava a dar vistos nos cadernos dos alunos do 9A quando um cheiro característico invadiu minhas amplas narinas. Achei que fosse...e era. Pedi a uma aluna que zelasse por meus objetos e saí da sala para dar o flagrante. Dei a volta no prédio, atrás das salas, da quadra. Não vi ninguém.

No intervalo, procurei a especialista: "Alguém estava...". Ela respondeu: "Já foi resolvido". Não deu muito papo. Assunto de drogas é sempre abafado. Não pode vazar. Já pensou se todos começam a comentar que naquela escola fuma-se maconha todos os dias?

E fumam mesmo. Entram na classe com a cabeça feita. Reconheço seus olhos baixos, avermelhados, os risinhos retardados, a cara de quem está em outro mundo.Todos os dias.

Mais tarde, no final do turno, a vice-diretora me mostrou a prova do "crime": a "ponta do baseado" plastificada e anexada ao relatório. E revelou que eram alunos do PAV "pavoroso".

Se eu fosse professora do PAVoroso, não pensaria duas vezes. Passaria o filme "Cenas de uma guerra particular" do João Moreira Sales para os drogaditos, e exigiria um texto individual sobre o filme com, no mínimo, trinta linhas, valendo 10 pontos.

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

D. Margarida, a subversiva

Eu não sei quanto a você, caro colega, mas faço questão de explicar bem explicadinho aos meus alunos o que é capitalismo, o que é luta de classes, o que é mais-valia, o que é lucro, o que é servidão, o que é escravidão, o que é trabalho assalariado, o que é greve, o que é socialismo, o que é comunismo, o que é revolução, o que é ...

Sigo a cartilha das utopias direitinho e digo a eles com todas as letras:

"Se não existissem os ricos que querem ficar cada vez mais ricos, não exisitiriam os pobres. Uns têm menos porque outros têm demais. A pobreza não é um desígnio divino. A pobreza é uma invenção dos homens e pelas mãos dos homens é perpetuada através dos séculos".

E digo a eles o "verdadeiro" valor da escola pública, gratuita e de péssima qualidade:

"Vocês têm que aprender a ler e a escrever para que possam saber ler um contrato de trabalho, ou de compra e venda; para que os ricos não passem vocês pra trás; para que os patrões não os enganem sobre seus direitos trabalhistas; para que vocês possam ter instrumentos para requerer do poder público o cumprimento das suas responsabilidades; e, principalmente, para aprender a votar  nas pessoas certas e eliminar de uma vez por toda essa canalha que está aí, roubando impunemente o dinheiro do povo."

Não sou comunista, mas sou professora e, portanto, pobre. Na classificação de mercado, baseada nos rendimentos salariais, pertenço à classe E. Dois salários mínimos. Economicamente pertenço ao povão. A uma parcela semi-intelectualizada do povo que seja, mas que ao fim e ao cabo, não deixa de ser o povão que provoca alergia preconceituosa nas elites.

Sigo o CBC porque sou obrigada, mas carrego na tinta quando o assunto é expor os interesses das elites sobre os anseios trabalhistas ao longo da História. E alguém pergunta: "E os alunos, eles prestam atenção no seu discurso?" E eu digo: "Vejo seus olhos brilharem. Aquele tipo de brilho que anuncia o entendimento de alguma coisa. Quando o assunto é a injustiça social, eles não só prestam muita atenção, como também participam, perguntam, questionam. Dá tudo certo."

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

O sonho de D. Margarida

"Eu tenho um sonho". No meu sonho, dezenas de milhares de professores se unem  numa grande manifestação pública pela valorização dos profissionais do magistério e por uma educação pública de qualidade.A manifestação é uma grande passeata. Uma passeata de milhares de pessoas. Uma passeata como há muito tempo não se vê nas ruas das cidades brasileiras. Uma passeata gigante que nos faz lembrar dos tempos entusiasmados da campanha pelas Diretas-Já.No meu sonho, pais e alunos também se juntam aos professores e, pouco a pouco, artistas, intelectuais, jornalistas e trabalhadores também participam.

Essa passeata caminha em direção a um grande palco. A passeata vira um grande show, uma grande festa. Várias pessoas discursam e defendem a valorização do professor como pedra fundamental para conquistarmos uma educação de qualidade. Intelecutais e especialistas explicam para a multidão quais são os verdadeiros motivos que levam o governo a não ter interesse em investir o que é necessário na educação. Artistas enfeitam e animam a festa.No meu sonho, o governo é profundamente humilhado por essa demonstração de cidadania consciente e poderosa.

Mas, não sei se o governo acata ou não as reivindicações dos professores...não sei se a greve acaba...só sei que essa manifestação fica na memória das pessoas. E que também fica o sentimento de termos feito a nossa parte; de termos lutado pelo que é justo; de termos usado as nossas principais armas que são a liberdade de expressão e de manifestação. Também fica a lição de que, cada vez mais, temos de aprender a votar nas pessoas que defendem verdadeiramente os interesses da maioria da população e não os interesses dos ricos.

Viva Martin Luther King que nos ensinou que temos o direito a ter sonhos e que não devemos nos envergonhar deles!

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Diário de greve (8)

Últimas notícias da Rádio Corredor, a preferida dos servidores públicos:

O pessoal do governo está histérico com a repercussão da greve. Um amigo presenciou cenas de puro nervosismo e genuína ansiedade entre servidores importantes da SEE - MG.

A última medida desesperada do governo foi determinar que os diretores das escolas comecem a montar processos de inassiduidade. O professor que não voltar para a sala de aula será considerado faltoso. Com 30 faltas, poderá ser exonerado ou responder processo administrativo. Do ponto de vista jurídico, anuncia-se uma guerra sem data pra terminar.

D. Secretária de Educação diz e repete para os diretores a todo momento que "a carreira antiga está em extinção" e que "o governo não vai mais investir no regime de remuneração".

Do lado de cá, foi um vexame a cena de alguns caros colegas que durante uma manifestação apresentaram-se diante de uma câmera de tv empunhando latinhas de cerveja e garrafas de cachaça. Questionados pelo repórter, disseram que bebem sim, que o reporter não tem nada com isso, que a bebida foi comprada com o dinheiro deles e que se eles tivessem o piso salarial beberiam uísque.

Sem comentários.