terça-feira, 29 de maio de 2012

Excursão à Bienal do Livro

Um de meus programas preferidos é passar um tempo em  livrarias-café folheando livros que desejo comprar. Alguns são caros. Outros, em promoção ou necessários, eu levo. Divido em várias vezes no cartão. E sempre compro. Todo mês.

Livrarias são ótimos locais para um bom momento de introspecção. Se o livreiro for seu amigo, melhor ainda. Você sempre ficará por dentro do que há de melhor e de mais fresco em boa literatura. Eu, graças a Deus, tenho excelentes amigos que, para minha sorte, são ótimos livreiros.

No Brasil, evento é vento. Ás vezes, um furacão. As coisas são (des) organizadas de tal forma que o público é  impedido de curtir o propósito do acontecimento. Minha visita à Bienal do Livro foi assim, um tanto caótica, para dizer o mínimo.

Fomos de ônibus: eu, doze professores, três diretores, quatro auxiliares e DUZENTOS E OITENTA E QUATRO ALUNOS. Quando chegamos, nos deparamos com mais DEZ MIL ESTUDANTES que também estavam participando do "é vento". Uma balbúrdia enlouquecedora.

Foi entrar e o grupo se dispersar. Meninos para um lado, professores para outro, diretores acolá. O lugar estava tão lotado, tão lotado, que não tinha como andar em grupo. Impossível levar os alunos aos estandes para lhes mostrar os livros! Como não vi nenhum dos meus caros colegas se desesperando por ter perdido seus pupilos de vista, relaxei e acatei a regra. Afinal, eles têm mais experiência do que eu no quesito excursão-à-bienal-do-livro.

Resumo da ópera: a Bienal do Livro não é realizada com o objetivo de despertar nas crianças e nos adolescentes o encanto pelos livros e  pela literatura. O objetivo da coisa é descaradamente comercial. Existem pessoas que lucram muuuuuuuito debaixo desse disfarce pseudo-educativo.

Entrar foi fácil. Sair, caro colega, foi um teste infernal de paciência. Nem Jó suportaria. Cheguei em casa às oito da noite.

E para completar, estivemos na Bienal na quinta-feira; na sexta, à noite, por causa de uma forte chuva, parte do teto desabou. A feira engana-trouxa foi encerrada dois dias antes da data prevista. Mas Deus é grande: ninguém se feriu.

quarta-feira, 23 de maio de 2012

Os dias

A vida segue os dias. Estou sem ideias. Muita coisa acontece. Nada muda.

Uma aluna rasga o rosto da outra com estilete na porta da escola. A gritaria ensurdecedora da meninada continua potencializada ao máximo pela péssima acústica. A polícia bate o ponto na escola. Professores tiram licenças médicas. Professores faltam. O sindicato move ações contra o governo do estado. A imprensa noticia a precariedade da educação brasileira, diariamente. A Secretaria de (des) Educação manda juntar turmas de séries diferentes em uma mesma classe. O pó de giz destrói meus cabelos. Minhas unhas quebram. Minha rinite piora. Meus olhos coçam. Os alunos insuportáveis continuam insuportáveis. E o 6º ano D  torna-se a criptonita de Super d. Margarida.

Estou cansada. Amanhã levarei os pequenos em uma excursão à Bienal do Livro. Espero que o passeio transcorra sem incidentes. E espero voltar com episódios engraçados pra lhe contar, caro colega.

quarta-feira, 9 de maio de 2012

Pedras e cadeiras (2º parte)

Reclamo muito neste blog. A proposta é exatamente esta: desabafar para não ter que tomar remedinho tarja preta para suportar o caos da (des) educação brasileira.

O lado bom fica prejudicado. Sim, porque muitos aluninhos são bagunceiros, mas adoráveis. E carinhosos. Alunas me abraçam no meio do pátio. Sorriem quando me vêem. Me cumprimentam e fazem festa quando chego na sala. Os garotos mais afetivos me elogiam. Escrevem mensagens nas provas e nos cadernos: "você é muito legal, professora"; "gosto de história"; "te amo". Uns fofos.

E quando a maioria deles tira boa nota na prova, fico felicíssima. Sinal de que estamos todos caminhando bem. Isso também acontece em meio ao caos, e é o que me salva da sensação de barbárie total.

Posso parecer uma professora histérica, mas não sou assim. Pelo menos, não inteiramente. D. Margarida é uma professora honesta. E  meus alunos são o meu xodó.

sexta-feira, 4 de maio de 2012

Pedras e cadeiras

Deu polícia hoje, de novo, na escola. Dessa vez, não por minha causa. Parece que alguns alunos arremessaram pedras e cadeiras... e eu sei quem foi.

Estava a tentar recuperar as notas dos alunos do 6º E, e, por algum milagre de Deus, a turma estava em ordem e em paz, muito atenta às minhas instruções. Os recuperandos correndo atrás do prejuízo. As garotas, a quem protegi para me salvar, muito felizes por terem alcançado notas acima da média.

Nenhuma felicidade dura muito em uma escola de periferia. O caos é sempre o senhor absoluto do pedaço. Então, quando achei que estava dominando o meu quadrado, dois "elementozinhos", do lado de fora, começaram a arremessar pedras e latas amassadas de refrigerantes pela janela do corredor. Os alunos de dentro reclamaram, com toda razão. Abri a porta e peguei os dois no "flagra":

"Por acaso, vocês estão doidos?"

Eles fugiram. Era quase recreio. "Depois faço a ocorrência", pensei.

Após o recreio, dei uma aula no 6ºA e fui para o meu calvário, o 6º D. Mas a polícia já tinha chegado e colocado todos os arremessadores de cadeiras e pedras en el paredón. Obviamente, não consegui dar a última aula  porque os basculantes da sala viraram camarotes para a blitz que acontecia no pátio interno bem embaixo da janela. O 6º D foi liberado e desci para a sala para onde os indisciplinados tinham sido transferidos.

Se o governo tivesse um programa em que professores, polícia, assistentes sociais e psicólogos pudessem detectar o garoto com comportamento de risco social,  e atuar para tentar salvá-lo, seria muito bom. A família do menino tem que ser chamada à responsabilidade, tem que ser investigada. Precisamos saber o que acontece com esse menino dentro de casa, quem são seus pais, e se podemos contar ou não com eles. Nossa obrigação como adultos é a de proteger esse menino da sua própria maldade e da maldade do mundo.

Mas o Brasil é o país da impunidade. Impunidade que começa na escola, onde aluno pode mais que professor.