quinta-feira, 27 de agosto de 2015

Nos trilhos

O saldo positivo de toda essa crise política, moral e econômica é que parece que os três poderes realmente estão assumindo suas responsabilidades. Sim, porque há muito pouco tempo vivíamos num país onde o Executivo legislava, o Legislativo investigava e julgava, e o Judiciário executava somente as penas que não comprometiam o equilíbrio dos privilégios.

Hoje, pelo menos, o Judiciário investiga e julga de acordo com as leis, o Executivo começa a compreender que é preciso administrar bem a máquina pública, e o Legislativo, um pouco fora de forma e fazendo besteira, tomou para si a função de legislar.

Agora só falta o povo receber educação e saúde de qualidade. Quem sabe o Brasil ainda tem jeito?

terça-feira, 21 de julho de 2015

A luta continua, ou o caminho de pedras

É difícil manter um blog. É preciso disciplina, coisa que não tenho mas pretendo adquirir. Um dia. Ou, ao longo dos dias até a minha morte. O importante é esmorecer tentando. Aliás, quem não tenta, nunca alcança.

Prova disso é que nós, professores, alcançamos a conquista do tão desejado piso salarial nacional vinculado ao poder centralizador do governo federal. (Já pensou se o PMDB conquistar a presidência, ou, pior, o PSDB? Ai, meu Deus! Teremos que mudar o discurso e levantar a bandeira do piso salarial estadual, principalmente se o PT estiver no comando do Reino da Província e estiver mostrando serviço. Assim espero. Príncipes-gênios-da-administração-pública- eficientes-competentes nunca mais!).

É a vida. Quando aposentar com esse salarinho salafrário, posso abrir uma tenda oracular de ações políticas. Espero ficar rica, pois tenho talento de sobra para adivinhar o que vai acontecer na República dos Interesses Privados. Não que o nosso atual governador seja desses que só enxergam o próprio umbigo, mas eu já sabia, por exemplo, que ele (que, espero, faça um bom governo e emplaque um sucessor, agora que a reeleição está com os dias contados) iria nos dar o piso, apenas o piso. Confesso que o prazo de três anos foi uma surpresa. Desagradável.

Mesmo que os aumentos venham a conta gotas, o importante é que venham, que pinguem. Para não perder o hábito dos ditados populares: água mole em pedra dura...Quem sabe o nosso salário, um dia, irá atingir um nível de dignidade mínimo? O importante é ver (ou crer) que o governo está preocupado em nos conceder o direito aos nossos direitos.Porque nem a isso tínhamos direito na administração passada. Não tínhamos direito aos nossos direitos quando os príncipes eficientes-competentes governavam.

Se o novo governador for inteligente saberá agradar aos professores. Pequenos mimos são suficientes, desde que sejam frequentes. Readequações anuais do valor do piso; reposicionamentos justos na carreira; a ressurreição da carreira; pequenos aumentos de 5% duas vezes ao ano etc.

Se o novo governador for um bom negociante, será capaz de aumentar a alíquota do nióbio e reverter boa parte dessa riqueza para a $valorização$ dos professores. Os chineses vão entender, afinal a China só cresce a 7% ao ano porque a educação oferecida ao povo é uma das melhores do mundo. É só o governador dizer aos chineses que o Brasil, hoje, precisa viver uma revolução cultural que enterre de vez o desperdício e o amadorismo, entre outras muitas mazelas.

Se o novo governador for capaz de enxergar o futuro, irá perceber que a principal  categoria profissional com força suficiente para apoiá-lo em tempos bicudos de pouca grana e recursos escassos é a classe do magistério. Quem irá atuar na linha de frente para conter o desespero da população quando a água faltar? Quem, hoje, é o profissional mais importante para disseminar conhecimentos sobre a necessidade de se criar novos hábitos de uso dos nossos recursos hídricos?

Uma nova mentalidade urge para dar conta de consertar os estragos provocados por políticos que só pensam  no próprio bolso e no próprio estômago. Espero que o novo governador tenha talento e disciplina para inaugurar uma nova era política no Reino da Província.

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

Que piso é este? Ou, onde estou pisando?

Li, no jornal, um artigo da coordenadora do sindicato dos professores chamando o novo governo estadual à responsabilidade da promessa feita durante a campanha de pagar o piso salarial nacional aos educadores mineiros. Diz a dirigente sindical, em palavras mais elegantes, inclusive apresentando dados estatísticos, que essa história de não ter dinheiro em caixa para pagar o piso aos professores é conversinha fiada para não cumprir o prometido. Ao final, ela faz quase uma ameaça: "Então o governo que se mexa, que repense sua estrutura, que bata à porta do governo federal. Passou da hora de ele pagar sua dívida com os educadores e a comunidade escolar". Presumo, a partir dessa fala, que os sindicalistas estejam doidos para convocar uma greve. Afinal, eles gostam da adrenalina da greve.

Não é minha intenção criticar de forma irônica o artigo da coordenadora do sindicato dos professores. Respeito-a tanto quanto ela me respeita: eu, uma professora da rede estadual, anônima como tantas outras centenas de milhares. Admirei-a na liderança da greve dos 111 dias (ou 112? não me lembro mais). Acompanhei seus discursos e posicionamentos de perto. Considero-a uma pessoa confiável e preparada para liderar a categoria.

Entretanto, como não sou apolitizada, preciso colocar uma questão incômoda para os sindicalistas. Sinto-me na obrigação de fazê-lo. E o que vou dizer não é uma conclusão minha. É fruto do trabalho de pesquisa de uma professora de importante universidade federal brasileira de quem tive a sorte de ter sido aluna durante meu curso de especialização. Disse a tal professora que, no Brasil, os sindicatos têm dificuldade de chegarem a termos razoáveis de negociação com a classe patronal. Há uma cultura sindicalista que pensa que se houve um acordo é sinal que houve peleguismo. Diante da proposta dos patrões, prefere-se abrir mão de algumas vitórias menores e sacrificar o todo, porque a principal reivindicação não foi atendida da forma exata que os sindicalistas queriam. Eles têm medo de serem vistos como pelegos se aceitarem um acordo. Com isso, as greves esvaziam-se como balões furados, perdem o sentido: por que se lutou tanto e não se conseguiu nada?

Eu, particularmente, quero muito que o novo governo dê certo. Ele é a minha esperança de ter um futuro salarial mais digno. Se o governador diz que não tem dinheiro e que é preciso esperar mais um pouco, mas que vai honrar o compromisso, prefiro esperar. Já esperei tanto. Alguns meses a mais não irão me colocar em uma situação pior do que essa em que me encontro, com o salário acabando em uma semana depois do quinto dia útil.

Mas não sou tão tola quanto pareço. Já entendi que o governo não vai conceder ao magistério o direito de voltar à antiga carreira. Se vier o piso, será na tabela do famigerado subsídio. O que é uma notícia péssima. Mesmo assim estou disposta a cooperar, desde que a promessa de recomposição salarial, no médio prazo, alcance as minhas contas: R$ 3.500,00, no mínimo, por um cargo. Sei que mereço mais. Muito mais. Mas estou disposta a cooperar com o novo governo. Desde que ele me pague. E rápido.


quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

sábado, 10 de janeiro de 2015

Novos rumos para a Educação em MG

Olá, caro colega! Há quanto tempo. Nos últimos meses estive envolvida em bem-aventuranças bem sucedidas. Nos próximos dois anos voltarei a ser uma estudante e deixarei de ser professora.

A outra novidade é que, contrariando a regra, escreverei neste blog nas férias. A mudança de governo estadual e todas as discussões em pauta sobre os novos rumos da educação mineira fazem com que eu  me sinta na obrigação cidadã de participar do debate.

Desde o primeiro dia do ano, o jornal O Tempo tem estampado, na primeira página, manchetes sobre as discussões propostas pela nova d. Secretária de Educação junto aos representantes do magistério. A promessa de campanha de promover o diálogo aberto está sendo cumprida. Ponto para o novo governador.

Entre as questões mais debatidas estão a implantação do piso nacional da educação e o impasse causado pela carga horária referente ao mesmo. A lei diz que o valor do piso é  para "até 40 horas" de trabalho. O cargo de professor estadual é de 24 horas por semana. O professor mineiro que dobra, ou seja, leciona em dois turnos, trabalha 48 horas por semana para ganhar dois mil e poucos reais (900 dólares). O novo governo do estado de MG propõe pagar o piso, mais as vantagens de carreira (biênios, quinquênios, pó de giz, etc.) desde que os professores trabalhem 40 horas.

É uma questão de fazer as contas. Se for instituído um cargo de 40 horas, 1/3 tem que ser fora de sala de aula, ou seja, seriam 26 horas em sala de aula e 13 horas para planejamento, correções de atividades, reuniões pedagógicas, etc. O professor, então, teria um cargo somente e na mesma escola. Pedagogicamente seria ótimo. Hoje são 16 horas em sala de aula para quem tem um cargo e 32 horas em sala de aula para quem tem dois cargos.

 E quanto ao salário? Vejamos. Se eu ganhasse o piso atualizado e mais todas as vantagens às quais tenho direito, tais como: 5 biênios (+ 20%); 2 quinquênios (+20%); pó de giz (+ 20%); e especialização (+ 20%), meu salário seria de R$ 1.917,78 + 80% desse valor, o que seria igual a R$ 3.452,00. Por outro lado se eu ganhasse o piso proporcional ao cargo de 24 horas mais as vantagens, eu receberia, por um cargo, R$ 2.071,20. Por dois cargos e 48 horas de trabalho semanais, R$ 4.142,40. A diferença entre trabalhar 40 horas e 48 horas é de R$ 690,40. Ah, e tem o desconto do imposto de renda.

Sugiro que cada professor faça as suas próprias contas. Penso também que precisamos ser realistas. Não dizem por aí que o estado está quebrado? De onde o governo vai tirar dinheiro para triplicar o salário de centenas de milhares de profissionais do magistério? Eis uma grande equação a ser resolvida.

Obs. Traduzindo em  linguagem de salário mínimo, hoje o professor ganha cerca e dois salários mínimos por um cargo (580 dólares ou 500 euros). Com o novo piso nacional, passaria a ganhar entre três e quatro salários mínimos.