domingo, 28 de agosto de 2011

Diário de greve (7)

Eu não disse? Eu não disse? O governo vai ter que pagar o piso salarial proporcional aos R$ 1.187,00. A Mulher Grana já disse no jornal que se o Supremo decidir, o governo vai cumprir. Então tá, viu? Só acredito vendo.

Depois de ver uma declaração da d. Secretária de Educação em que ela afirma com todas as letras que "o regime antigo está em extinção", fichas caíram dentro da minha cabeça e entendi porque esse governozinho ordinário não resolve a questão de uma vez.

É muito simples. O que o governador do "reino da província" não quer perder  sua autonomia em relação à folha de pagamentos do estado. Com o piso, o governo do estado ficará subordinado ao poder federal. Qualquer aumento que o piso tiver (e dizem por aí que o próximo aumento será de 20%) o governador do "reino da província" terá que pagar sem discutir.
Perdeu, sr. governador! Perdeu, Mulher Grana! Perdeu, d. Secretária de Educação! Se vocês tivessem realmente traçado um novo plano de carreira mais vantajoso, se não tivessem ignorado o tempo de serviço dos professores que já estão nessa estrada há mais de vinte anos, se tivessem tentado dialogar honestamente em nome do bem público, se...

Como professora vou ensinar ao governo uma lição. Preste atenção e copie um milhão de vezes no caderno: NÃO EXISTE EDUCAÇÃO DE QUALIDADE SEM A VALORIZAÇÃO DO PROFESSOR! Todos os especialistas internacionais afirmam que a melhoria da educação brasileira passa pela valorização do professor através da valorização salarial. Mas os governantes dos estados brasileiros preferem ouvir intelectuais de pouca visão, defensores da tese  de que o aumento de salário não garante a melhoria da qualidade da educação.

Essa novela ainda não acabou! Muitos capítulos ainda vão rolar. Talvez eu esteja cantando vitória antes do tempo, mas é como uma tentação: perdeu, perdeu, perdeu!

terça-feira, 16 de agosto de 2011

Diário de greve (6)

A pirraça do governo é absolutamente revoltante. Não existe outro termo para definir a recusa em negociar. Pirraça!

O que se há de fazer se existem governantes que preferem ser lembrados por terem asfaltado alguns kilômetros de estradas de terra, e não como um líder que ofereceu ao seu povo uma educação de qualidade?

O governo é incompetente para resolver o problema da educação. Ele é incapaz de traçar um plano a médio ou a longo prazo para valorizar os profissionais da educação e consequentemente melhorar o nível do ensino.A sociedade está "anastasiada" e a falta de consciência política faz com que a classe média alta não se dê conta de que tem o direito de ter seus filhos estudando em escolas públicas de qualidade.

O PSDB é assim, a elite bem educada, culta, formada nas melhores universidades. Mas somente eles podem ser assim. O resto da população deve se contentar em ser porteiro, empregada doméstica, pedreiro, motorista, lixeiro, etc.Afinal, se a população em geral tiver acesso a uma educação de qualidade, quem vai tolerar ser humilhado e explorado pelas elites? A quem interessa uma população culta e politicamente consciente?

Nossa luta não é apenas por salário. Nossa luta é por cidadania de verdade e igualdade social.

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Quando D. Margarida pira

Fim de bimestre. Dezenas de notas pra fechar. Centenas de exercícios pra corrigir. Diários pré-históricos pra preencher. E ainda por cima a tal recuperação paralela que nos obriga a dar chances e mais chances aos alunos preguiçosos.

S. , 15 anos, é uma dessas alunas indolentes. Falta muito e copia todos os trabalhos e exercícios de outras colegas. Eu a chamo secretamente de Barbie Negra. É uma garota bonita, alta e esguia, mas também muito burrinha pois faz questão de desperdiçar a própria inteligência.

Em um belo e tumultuado dia, fiz a distribuição dos trabalhos de recuperação paralela. Pois a menina pegou a apostila, dirigiu-se a mim e teve a indecência de perguntar:

"É pra fazer, professora?"

"Não. É pra você colar essa atividade na parede ao lado da sua cama e ficar admirando a nova decoração", respondi, sem o menor pudor.

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Diário de greve (5)

Minha escola não está em greve, infelizmente, mas estou achando o máximo essa greve. É a greve mais corajosa que já vi. O mais legal que é que o governo está começando a ficar desesperado. Isso é ótimo!

O final dessa luta acho que posso adivinhar: o governo vai ceder e dizer que vai pagar o piso de R$ 712,00 para 24 horas e ensino superior. Ele vai fundir alguns penduricalhos (VTI e PCRM) ao vencimento básico e garantir o aumento salarial em cima do efeito cascata das vantagens principais: biênios, quinquênios, pó de giz e pós-graduação.

Para a maioria dos professores os aumentos serão de mais de 130% sobre os R$ 712,00. Mas, e para quem não tem nenhuma vantagem? Esses voltarão a ganhar o piso, o pó de giz, o auxílio transporte e nada mais? Terão que esperar mais greves, ou seja, mais alguns anos para ter um salário de verdade?

Tic, tac, tic, tac....o tempo de voltar para o regime remuneratório acaba de acabar.

Torço para que o governo se engasgue com o subsídio e aprenda a valorizar o professor, respeitando o seu direito a uma carreira profissional digna.

terça-feira, 9 de agosto de 2011

Quem sou eu?

Ao longo da minha "carreira" (se é que existe uma carreira do magistério em MG) sempre  procurei ser paciente com os alunos. Afinal, são apenas crianças. Os adolescentes são criançonas também. Minha experiência de vida sempre me deu jogo de cintura para neutralizar as provocações, mas este ano estou sem paciência.

Nem bem começou o semestre e já me sinto exausta!

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Volta às aulas!

Você, caro colega, está cheio de gás e de muitas novidades para apresentar aos seus alunos queridos? Está repleto de "furor pedagógico" e acredita que desta vez encontrará a fórmula mágica que transformará a educação em algo prazeroso para você e seus pupilos? Acredita que neste semestre conseguirá fazer com que eles aprendam todo o conteúdo da disciplina?

Pois eu não. Estou velha demais pra ter ilusões a respeito da educação. Se conseguir que eles aprendam a ler e a escrever um pouco melhor e a ter um pouquinho mais de senso crítico, já me darei por satisfeita. Concordo com Diderot: a educação pode muito, mas não pode tudo. E "muito", no meu caso, é apenas um "pouco".