quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Aplicação do PAAE

Muitos dias se passaram desde a última postagem. Absurdos continuam acontecendo na escola. O último deles foi a aplicação de uma avaliação diagnóstica de português, da Secretaria de Educação, nos dois últimos horários, depois do recreio, quando os alunos estavam bem calminhos, descansados e com alta capacidade de concentração. Detalhe: o teste tinha 30 questões objetivas com enunciado de textos. Foi ótimo. Meus aluninhos semi-analfabetos do sexto ano tiveram apenas um horário e meio para responder. A equipe pedagógica da escola está de parabéns! Nunca vi gente tão eficiente.

domingo, 12 de agosto de 2012

Dia dos Pais na escola pública

Eu sei que tudo é uma baboseira da sociedade de consumo e que o comércio é o grande responsável por todas essas datas comemorativas. Dia da secretária, dia do advogado, dia do atleta, dia do músico, dia do médico, dia do engenheiro. Há dias para todas as categorias profissionais. No entanto, pai e mãe são sagrados e comemoramos de bom grado, mimando do jeito que damos conta, cada um à sua maneira, os nossos genitores queridos.

Neste dia dos pais, porém, penso nos meus alunos que mal conhecem o pai. Ou naqueles que nem sabem quem é o pai. Penso também naqueles que sabem quem é o pai biológico, onde mora, o que faz, mas nunca foram assumidos ou acarinhados como filhos. Abandonados e ignorados, muitos deles são.

Nós, caro colega, professores de escolas públicas, conhecemos bem o script da tragédia brasileira da falta de reconhecimento de paternidade. É uma questão cultural. Machista. Difícil de resolver. A criança cresce sem pai, sob a guarda de uma mãe sobrecarregada. Isso se reflete na escola. O professor vê quando a criança é largada, negligenciada. Ou quando o adolescente se revolta porque seu pai não assume sua função. Ou porque a mãe tem cinco filhos, cada um de um pai diferente, e nenhum dos pais ajuda a mãe.

E o menino, para descontar a sua dor, quebra o pau na escola.

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Volta às aulas

Começou. A sala continua sem porta. Continuo sem domínio dos sextos anos D e E. Ansiedades me assaltam.

Para compensar, os sextos anos A, B e C são um alento. Ontem mesmo deixei o 6ºC de castigo só pra lembrá-los de que existem combinados que precisam ser respeitados. Com as férias, eles se esqueceram desse pequeno detalhe. São uns fofos. Sou a madrinha da turma. Turma fraca, lenta, mas leve, com bom humor e interessada. Alguns alunos são completamente analfabetos. Confesso que não sei o que fazer por eles. A. C, por exemplo, não soube ler a palavra PEDRA. Fiquei chocada. A menina tem 12 anos e não sabe ler encontros consonantais. Um absurdo. É o que a especialista do Ensino Médio questiona e com toda razão:

"Como é que uma criança passa anos na escola e sai sem aprender a ler e escrever? Não consigo entender isso."

Eu também não consigo aceitar a ideia comum de que existem alunos que não aprendem. Talvez seja mais fácil dizer que eles são incapazes de aprender do que assumir a ineficiência de uma estrutura de ensino excludente e injusta. Turmas lotadas, falta de tempo para um bom planejamento porque o professor trabalha três turnos pra não passar fome, ausência de um programa de assistência social que dê conta dos filhos das famílas desestruturadas. Enfim, são tantos os problemas da (des) educação brasileira.

Ansiedades me assaltam. Não consigo ver luz no fim do túnel. O psiquiatra pergunta:

"Você tem alguma saída para essa situação? Você tem um plano B?"

"Eu escrevo, doutor. Escrevo pra não enlouquecer."