quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

Que piso é este? Ou, onde estou pisando?

Li, no jornal, um artigo da coordenadora do sindicato dos professores chamando o novo governo estadual à responsabilidade da promessa feita durante a campanha de pagar o piso salarial nacional aos educadores mineiros. Diz a dirigente sindical, em palavras mais elegantes, inclusive apresentando dados estatísticos, que essa história de não ter dinheiro em caixa para pagar o piso aos professores é conversinha fiada para não cumprir o prometido. Ao final, ela faz quase uma ameaça: "Então o governo que se mexa, que repense sua estrutura, que bata à porta do governo federal. Passou da hora de ele pagar sua dívida com os educadores e a comunidade escolar". Presumo, a partir dessa fala, que os sindicalistas estejam doidos para convocar uma greve. Afinal, eles gostam da adrenalina da greve.

Não é minha intenção criticar de forma irônica o artigo da coordenadora do sindicato dos professores. Respeito-a tanto quanto ela me respeita: eu, uma professora da rede estadual, anônima como tantas outras centenas de milhares. Admirei-a na liderança da greve dos 111 dias (ou 112? não me lembro mais). Acompanhei seus discursos e posicionamentos de perto. Considero-a uma pessoa confiável e preparada para liderar a categoria.

Entretanto, como não sou apolitizada, preciso colocar uma questão incômoda para os sindicalistas. Sinto-me na obrigação de fazê-lo. E o que vou dizer não é uma conclusão minha. É fruto do trabalho de pesquisa de uma professora de importante universidade federal brasileira de quem tive a sorte de ter sido aluna durante meu curso de especialização. Disse a tal professora que, no Brasil, os sindicatos têm dificuldade de chegarem a termos razoáveis de negociação com a classe patronal. Há uma cultura sindicalista que pensa que se houve um acordo é sinal que houve peleguismo. Diante da proposta dos patrões, prefere-se abrir mão de algumas vitórias menores e sacrificar o todo, porque a principal reivindicação não foi atendida da forma exata que os sindicalistas queriam. Eles têm medo de serem vistos como pelegos se aceitarem um acordo. Com isso, as greves esvaziam-se como balões furados, perdem o sentido: por que se lutou tanto e não se conseguiu nada?

Eu, particularmente, quero muito que o novo governo dê certo. Ele é a minha esperança de ter um futuro salarial mais digno. Se o governador diz que não tem dinheiro e que é preciso esperar mais um pouco, mas que vai honrar o compromisso, prefiro esperar. Já esperei tanto. Alguns meses a mais não irão me colocar em uma situação pior do que essa em que me encontro, com o salário acabando em uma semana depois do quinto dia útil.

Mas não sou tão tola quanto pareço. Já entendi que o governo não vai conceder ao magistério o direito de voltar à antiga carreira. Se vier o piso, será na tabela do famigerado subsídio. O que é uma notícia péssima. Mesmo assim estou disposta a cooperar, desde que a promessa de recomposição salarial, no médio prazo, alcance as minhas contas: R$ 3.500,00, no mínimo, por um cargo. Sei que mereço mais. Muito mais. Mas estou disposta a cooperar com o novo governo. Desde que ele me pague. E rápido.


quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015