quarta-feira, 21 de agosto de 2013

O Dia D Difícil

Meu dia D foi difícil. Tive um desentendimento desagradável com um colega. Discutimos sobre a deficiência dos salários pagos aos professores. Para meu colega, um salário decente não garante maior dedicação profissional. Discordo, pois penso que professores com salários débeis tampouco se sentem motivados a enfrentar os grandes desafios que a Educação, hoje, demanda. O desenvovimento dos discentes fica comprometido, pois o professor se desgasta demais trabalhando em dois ou três turnos para sobreviver. As doenças aparecem. As faltas se sucedem. A disciplina escolar fica comprometida.

Meu colega não desconfia que existe um direcionamento dentro desse discurso. Se o professor é ruim, pensam os dirigentes, por que deve ganhar mais? Existe um imaginário onde o professor é um ser que deve viver apenas para a devoção ao trabalho, sem direito a uma vida com mais opções de vida, com mais riqueza de experiências, com mais dignidade e mais diversidade de pensamento.

dia D me deixou deprimida.

segunda-feira, 19 de agosto de 2013

O motim

Na última quarta-feira, uma turminha do sétimo ano "pintou" com D. Margarida. Simplesmente, os alunos não me deixaram dar aula. A minha aula! Que eu havia preparado com tanto carinho! Eles começaram a bater nas carteiras com as mãos. Todos ao mesmo tempo. Um verdeiro motim.

"Queremos desenhar! Queremos desenhar! Queremos desenhar!"

Fui pega de surpresa. Mas sou muito flexível. Não me abalo facilmente. Não mais. Eles querem desenhar? Ok! E escrevi a atividade no quadro:

"Crie uma história em quadrinhos sobre a vida dos escravos nos engenhos."

"Credo, professora! Você só fala de escravo!" disse M.

D. endossou: "É mesmo. Não vou fazer nada. Tô fora."

Aí eu entendi o que eles queriam. Eles queriam um desenho pronto para colorir. Desses tipo mosaico, com uma legenda de cores de acordo com os números. Um desenho que as crianças de 6 anos, quando decobrem os números, aprendem a colorir. Só que os meus alunos têm 12, 13 anos!

Em uma situação como essa sempre tento entrar em um acordo. Tento falar, explicar, argumentar, até reverter a situação. Mas eu estava cansada. Estava sem força. Parei debaixo do batente da porta e encarei-os. De repente, surgiu uma oportunidade para ir para outra turma, "subir" uma aula. Abandonei os rebelados com a ajudante de serviços e fui para o outro sétimo ano, que me recebeu super bem.

Estou ficando macaca velha. Sinto preguiça de sofrer.

domingo, 11 de agosto de 2013

Professores que piram (4)

Leio no jornal O Tempo, do último sábado, uma pequena notinha: "Professora traumatiza aluno". A professora de uma escola estadual, localizada em uma cidade no interior do estado de São Paulo, chamou o aluno de 11 anos de Félix.

Félix, para esclarecer meus caros colegas estrangeiros, é o nome do grande vilão da telenovela do horário nobre da Rede Globo, "Amor à Vida". O personagem é homossexual.

Diz a nota que a mãe do aluno "resolveu tirá-lo da escola para evitar mais traumas".

Fica a dúvida: por que a professora chamou o menino de Félix? Por que o menino demonstrou alguma maldade, alguma perversão? Ou por que o garoto demonstrou sua homossexualidade? Ou as duas coisas?

Alunos com atitudes perversas existem e são assustadores. Nós, professores, ficamos sem saber o que fazer com esse tipo de criança. Mandamos chamar os pais e, às vezes, os responsáveis são tipos muito piores.

Quanto à questão da homossexualidade, sou totalmente contra qualquer discriminação por parte dos professores em relação aos alunos nesse sentido. Sou do tipo que vira para os alunos, quando pinta uma piada, ou uma bricadeirinha preconceituosa, e falo: "E daí? E daí se tem gente que prefere se relacionar com pessoas do mesmo sexo?"

"É doença, professora. Falta de vergonha na cara", eles respondem. E eu retruco: "Não tem nada de doença. O ser humano é um ser cultural. Nós não praticamos sexo como os animais. A sexualidade humana é muito rica e variada. A pessoa tem que namorar com quem ela gosta e com quem gosta dela também. O mais importante é o sentimento, o respeito, o carinho." Eles me olham com cara de espantados. E a polêmica corre solta.

De qualquer forma, penso que a professora chamou o menino de Félix por impulso, por desespero. As crianças nos testam além do limite suportável. Falamos sem pensar. E é aí que erramos. Professor, atualmente, não pode falar nada sem pensar antes.

quinta-feira, 8 de agosto de 2013

Curso de capacitação de professores (2)

O curso de capacitação de professores no Othon foi muito melhor que no Tauá. Menos dispersão, melhor aproveitamento. Teve gente que reclamou, mas sempre tem aqueles que reclamam. Eu me incluo entre essas pessoas. Aliás, professor de escola pública é um bicho que reclama muito, de tudo. Às vezes sinto preguiça de D. Margarida, mas não há outra saída para nós, caro colega, a não ser "botar a boca no trombone". Precisamos nos politizar mais. Cada vez mais.

Continuo com a mesma opinião: foi tudo muito bom, tudo muito bem, mas realmente eu gostaria... de receber um bom aumento de salário. A equação que o governo do Reino da Província não entende  é a seguinte:

Salário digno =  qualidade de vida + autoestima elevada + dedicação à profissão - doenças - licenças médicas - faltas ao trabalho = Educação de qualidade

Olá, governador! Vamos acordar para a realidade?

segunda-feira, 5 de agosto de 2013

PNLD - Como escolher um livro didático

Você, caro colega, já deve ter percebido que sou a rainha da reclamação. Não será diferente em relação ao tema "livros didáticos".

Não existe livro didático ideal. Todos têm problemas. Então, como escolher o melhor livro didático pra você e seus alunos? Não é fácil, ainda mais se temos consciência de que é impossível ler todas aquelas coleções que as editoras mandam para as escolas. Podemos folheá-las, ler várias páginas, analisar as sinopses, mas não podemos nos iludir pelas aparências.

Minhas dicas sobre essa difícil escolha não são dicas de uma especialista. O livro que julgo o melhor meu caro colega pode não gostar. Enfim, são apenas umas dicazinhas ordinárias pra tentar facilitar a vida de quem tem que lecionar em três turnos pra sobreviver. Vamos lá:

1. Se você está satisfeito com o livro didático que utiliza em sala de aula, nem pense em perder tempo com  a análise de outros. Confira no site do Ministério da Educação, no Guia do Livro Didático, se o seu atual livro está na lista e peça-o. Mesmo que a nova edição venha modificada, a essência dos textos e da organização continuará a mesma e você não terá que mudar todo o planejamento que suou para construir durante os últimos quatro anos.

2. Se lhe disserem que não se pode permanecer com a coleção atual, que tem que trocar de livro, não caia nessa. Isso não existe. Essa compração de livro didático, essa gastação de dinheiro público, é um "acordo" do governo federal com as editoras de livros. Lembre-se: tem gente ganhando muuuuuuitooo dinheiro com isso. Então, facilite a sua vida.

3. Se você estiver pensando realmente em mudar de livro, a primeira coisa a fazer é pensar nos seus alunos. Eles são capazes de ler textos mais elaborados? Ou preferem textos mais curtos e simples? E quanto às imagens, gráficos, textos complementares, documentos e atividades? Enfim, esses pontos devem ser analisados dentro do possível. Procure encontrar um meio termo entre aquela coleção que você mais gostou e aquela que você acha que os seus alunos irão gostar mais.

4. Livros pesados, nem pensar. Principalmente se você leciona para alunos que vão a pé para a escola e depois têm que subir o morro pra chegar em casa. Quanto mais leve, melhor. Do contrário, você corre o risco de mais da metade da turma "esquecer" o livro em casa.

5. Privilegie livros que tratem da nossa realidade, da história brasileira. Repare bem, a maioria dos livros trazem capítulos e mais capítulos sobre história geral. A história do Brasil fica espremida em poucas páginas. Vai por mim:  os alunos de hoje têm muito mais curiosidade sobre o Brasil Africano, por exemplo, do que sobre a formação do feudalismo.

6. Leve em conta como você trabalha. Você é daqueles que utiliza apenas o livro didático em suas aulas? Então você deve realmente escolher um livro que ofereça muitas atividades e de preferência compatíveis com o conteúdo dos textos. E procure também analisar se essas atividades irão motivar seus alunos.

7. Uma outra opção para facilitar a vida é tentar escolher um livro que já foi adotado por você e por seus colegas, anos atrás, e funcionou muito bem. Todos nós guardamos planejamentos antigos. Quem sabe não é a hora de retomar aquela coleção que a editora resolveu relançar?

8. Não existe livro didático perfeito. Existe aquele que é mais adequado pra você e para seus alunos. O livro didático não é a super ferramenta que resolve todos os problemas pedagógicos. Ele é só mais um instrumento entre vários outros. Então, caro colega, escolha o melhor que puder. Afinal, serão mais quatro anos até a próxima escolha.

Boa sorte!

quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Férias imaginárias

Faz frio no país estrangeiro. Tudo que eu quero é me enfiar debaixo das cobertas e ler um bom livro, mas meu marido quer bater pernas pelo país estrangeiro. Ele quer ensinar à nossa filha de oito anos como explorar o mundo.

Um metrô que funciona nos transporta pela big city em questão de minutos, várias vezes ao dia. O ritmo é frenético. Minha natureza melancólica e preguiçosa sofre, mas a paisagem é tão linda, os lugares são tão interessantes, a comida é tão boa, que me rendo à caçada de surpresas com bom ânimo. Minha curiosidade vence. O livro fica pra depois.

A neve. Já tinha desisitido de conhecê-la. Linda, faiscante, fascinante e mortal. Depois de meio dia de sol e céu azul, o tempo fecha, a temperatura despenca e uma nevasca paralisa o trânsito nas montanhas. Resultado: seis horas dentro de uma van pra chegar ao hotel, e muito medo.

Museus, restaurantes, parques, shoppings (essa praga da qual não conseguimos nos livrar), as ruas e o povo. Um povo por quem um certo presidente deu a sua vida. Um povo sofrido como nosotros, los brasileños. Um povo gentil e reservado, que fala baixo, que não joga lixo no chão das ruas, bem educado. Um povo que merece menos desigualdade social como tantos outros no planeta.

Visito a casa do poeta, incrustada no alto de um cerro, na cidade dos cerros. A vista enche meus olhos e minha alma. O mar calmo, pontilhado de navios, abraça o horizonte. Sinto inveja do poeta e do seu cantinho pra escrever.

Em uma cidade vizinha, balneário dos ricos do país estrangeiro, um leão marinho dança no mar, próximo aos rochedos coalhados de gaivotas e outras aves. Um presente da natureza. Avisto pelicanos empoleirados em um piér e penso na poesia de Adélia Prado. O bicho é mesmo perfeito para o título de um livro.

Nossa filha vai aprendendo a explorar o mundo. E eu também.

Faz frio no país estrangeiro... mas é hora de acordar. As aulas já vão começar.