segunda-feira, 29 de abril de 2013

Aplicação do PAAE 2013

Eu sei. Nada, absolutamente nada, justifica o valor miserável do nosso salário. Não adianta o governo dizer que não tem dinheiro, que não pode, que não tem jeito, que tem que respeitar a lei de responsabilidade fiscal, etc e etc, porque nós sabemos que para outras coisas tem dinheiro, e muito.

Um círculo vicioso é imposto à categoria do magistério. O professor sempre aparece na mídia como despreparado e responsável pelo fracasso da educação. Se a Educação vai bem, o mérito é do governo. Se vai mal, a culpa é do professor. Veja bem, isso é um discurso construído que favorece, principalmente, o poder executivo! Se o professor é um  incompetente, por que merece ganhar mais? No discurso construído  não adianta pagar bem ao professor porque se ele é um mau profissional, não será a carteira mais recheada que irá transformá-lo em um bom mestre. Na ótica dos governos fica mais barato oferecer cursos de capacitação em massa do que realmente valorizar o profissional através do reconhecimento do seu trabalho.

Ora, ora! Você sabe tão bem quanto eu, caro colega, que existem professores e professores. Como em toda categoria profissional existem os bons profissionais, os mais ou menos, os ótimos, os vocacionados, os ruins e aqueles péssimos! Tem de tudo! Até aí, tudo normal. O lado assustador da história é que tem professor que acredita no discurso construído e, apesar de ter competência e experiência para realizar um bom trabalho, passa a deixar pra lá, a empurrar com a barriga, a fazer tudo mal feito. 

Hoje presenciei uma aberração anti pedagógica. A avaliação de matemática do PAAE do ensino fundamental  foi aplicada nos dois últimos horários. E os alunos podiam ser dispensados após o término do teste. Resultado? Os meninos, que já estavam achando a prova difícílima, marcaram qualquer resposta no gabarito e cascaram fora. Fui tomar satisfação com a especialista.

"Esses meninos não querem nada com nada. Mesmo se a prova fosse no primeiro horário, você acha que eles iam responder?" respondeu a especialista.

Outro círculo vicioso. Os alunos não gostam de estudar, então não adianta o professor se esforçar. Os profissionais da escola não demonstram compromisso com a qualidade do ensino e depois cobram dos alunos a dedicação que eles mesmo não oferecem às crianças e aos adolescentes.

Que lama, heim colega! Que lama!

quarta-feira, 24 de abril de 2013

Paralisação dos professores

"Hoje tem assembléia?
Tem, sim senhor!
E o professor, o que é?
É..."

Eis a questão: quem somos nós, caro colega? Qual é o nosso papel nessa nova sociedade da informação, da tecnologia e do consumismo?

Paralisação no final do bimestre é um presente, você não acha? Três dias para corrigir toneladas de provas e exercícios e para fechar os diários. Aproveitamos o recesso político de outra forma, trabalhando em casa.

Não, eu não fui à assembléia, mas gostaria de ter ido. Soube que há um indicativo de greve para o início de junho. Sou a favor. Entretanto, minha pauta de reivindicações é um pouco diferente daquela do sindicato.

Em primeiro lugar, penso que deveríamos balizar nossas reivindicações salariais pelo salário mínimo. Motivo: a população não entende nada de "piso salarial", mas se você disser que o seu salário é igual a dois salários mínimos e que você deseja ganhar três salários, o povo vai entender, comentar e apoiar os professores.

Em segundo lugar, concordo com o sindicato em relação às aulas de exigência curricular obrigatória. Fui uma vítima. A escola poderia ter me dado as 16 aulas, mas obrigaram-me a assumir duas aulas obrigatórias. E até hoje não recebi por elas.

Em terceiro lugar, professor tem que entender de legislação. As pessoas vivem imersas em "achismos". Tornam-se, dessa forma, em jargão político desgastado, "massa de manobra" não só de propostas de lutas natimortas, mas também de algumas especialistas, vice-diretoras e diretoras que aterrorizam os professores com ameaças sem fundamento jurídico.

O sindicato faria um bem enorme à categoria se promovesse periodicamente cursos de conscientização jurídica abertos aos professores. Dessa forma estaria cumprindo a pauta revolucionária clássica, fortalecendo as bases.

Devemos começar a pensar em uma nova greve.  

sábado, 20 de abril de 2013

Resultados do PAAE

Aos quarenta e quatro minutos do segundo tempo consegui inserir todos os dados dos meus alunos no sistema do PAAE. Sistema de avaliação interessante. Desejo explorá-lo melhor. Gosto quando a educação mineira avança em tecnologia.

Meus alunos estão dentro da média da escola. Quase 50% de acertos. É um nível baixo. Mas o que fazer se insistimos em ensinar uma história europeizada? Afinal, somos fruto da cultura europeia também. Entretanto devemos ter como foco a história brasileira. É basicamente a história do Brasil que cai em todas as avaliações sistemáticas dos governos estadual e federal.  E se essa história mantém links com a história dos outros continentes façamos os downloads necessários para o entendimento do contexto nacional e ponto final.

Nada de torturar os alunos com a formação da Grécia arcaica, ou com detalhes da formação do feudalismo, impérios carolíngio e merovíngio, etc. Bobajada. Eu, por exemplo, resumo a Idade Média ao fortalecimento da Cristandade e já caio na Reforma Protestante que os alunos adoram porque são quase todos evangélicos.

É preciso reescrever tópicos do livro didático pra que os alunos aprendam melhor. É preciso que o professor de historia seja mais que um professor. É preciso que ele também seja um historiador.

sábado, 13 de abril de 2013

Como levantar a autoestima dos professores?

Desde mocinha, sempre frequentei salões de beleza. Adoro. Acho uma terapia. Levanta a autoestima e o visual.

Não sou tão assídua quanto gostaria por razões óbvias de falta de dinheiro. E também não tenho paciência pra testar todas as novidades para os cabelos, nem toda a cartela de cores de esmaltes. Vou mais por necessidade que por futilidade. Sim, ir ao salão de beleza é um item de primeira necessidade para as mulheres, em geral.

Detesto salões impessoais, desses que têm alta rotatividade de clientes e funcionários. Preciso que role uma empatia, uma amizade com a cabelereira e com a manicure, porque o bom de se ir ao salão de beleza não é sair de lá apenas linda e maravilhosa, mas também com alguns conselhos valiosos na necessaire: dicas de moda, dicas de beleza, dicas de produtos, dicas sobre os homens, dicas sobre como educar melhor os filhos, etc. A literatura das revistas femininas é debatida em alto nível durante uma sessão no cabelereiro. 

 T. é uma cabelereira muito bonita, elegante e ótima profissional. Ela aguenta minhas lamúrias do magistério com a maior paciência. Outro dia fui pintar as madeixas. O papo foi caminhando, caminhando, caminhando, e lá estava eu a reclamar dos alunos insuportáveis:

"Passei um exercício no quadro e pedi aos alunos para procurarem as respostas no texto. O menino passou perto de mim e sussurrou 'procurar é na bu... da professora'. Que ódio! Aí eu coloquei a minha mesa na porta pra evitar o entra e sai de alunos, porque na sala de aula não tem porta. Foi arrancada pelos vândalos. Ele ficou do lado de fora. Falei pra ele entrar. Aí ele falou, baixinho: 'só tem professora vagabunda nessa escola'. O que eu faço com esse menino?"

"Quantos anos?", perguntou T.

"Quatorze, quinze", respondi.

O conselho da cabeleireira foi poderoso:

"Esse menino está querendo se afirmar. Adolescente querendo se afirmar como homem é assim mesmo. Fala essas bobagens pra chamar atenção. Menino é assim. É o jeito que ele achou. Você, como professora, está com a faca e o queijo na mão. Chama esse menino, conversa com ele, mostra pra ele. O poder está com você. Esse menino, coitado, nem sabe o que está fazendo. Está nas suas mãos mostrar pra ele como as coisas são, o que é certo, o que é errado".

Sai do salão com a autoestima no céu.

domingo, 7 de abril de 2013

Monotonia

Nada de novo no front. A vida na trincheira está um tédio. Na sala dos professores os papos continuam os mesmos: "os alunos não querem saber de estudar", "não querem saber de nada". A escola continua desorganizada. Imagine você, caro colega, eles conseguiram errar o meu salário! Recebi metade do que deveria ganhar. Não sei como vou fazer para pagar as contas este mês. Vou ter que pedir um empréstimo. Estou quase desejando uma greve. Uma bem boa, que me faça sair de casa para participar das assembléias.

Quem me diverte mesmo são os alunos. Eles são a melhor parte dessa história. Ser professor é ótimo. A profissão é boa, uma das melhores. O problema é o governo.