quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Palavrinhas e palavrões (3)

Vou falar uma coisa politicamente incorreta. Antigamente, quando a classe média queria elogiar uma pessoa mais humilde dizia: "é pobre, mas é honesto". Hoje, a elite e a classe média dizem: "é pobre, mas é limpinho". Mas para mim a fala deveria ser: é pobre, mas é bem educado.

Não é raro encontrar pessoas bem educadas entre os muito pobres. Nas escolas públicas existem crianças e adolescentes gentis e amáveis que usam o "por favor" e o " muito obrigado" com muita naturalidade, até mais que alguns de nós, professores, aturdidos com o caos disciplinar; brutalizados por sermos um escudo contra a violência escolar cotidiana; e por termos nos rendido à agressividade na relação com os nossos alunos. Você sabe tão bem quanto eu como é difícil manter a calma.

Todos nós, caro colega, também sabemos que há pessoas sem educação em todas as classes sociais. Falta de educação é um patrimônio cultural nacional. Infelizmente.

Estou a falar desse assunto porque ontem, quando estava deixando meu turno, assisti a  uma cena digna de nota. Uma mãe foi à escola buscar suas crianças e não as encontrou no lugar de costume. Foi até a quadra de esportes e começou a gritar para o colega do seu filho que estava a uns 50 metros de distância:

_ Ô PORRA! Você não disse pra ele me esperar, CARALHO? Mas eu não disse para me esperar, CARALHO? Ô PORRA, agora vou ter que esperar. QUE PORRA! CARALHO! PORRA!

Isso, dentro da escola. Isso, aos berros. Uma mãe. Agora, imagine o naipe do filho.

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Babado forte

Às vezes, o babado é tão forte, caro colega, que nem sob o manto de um pseudônimo posso comentá-lo.


quarta-feira, 12 de setembro de 2012

A origem dos seres humanos

Outro dia foi engraçado. Estava a ensinar ao 6ºB os caminhos que levaram os seres humanos ao continente americano quando lancei a seguinte pergunta para a classe:

"Onde surgiu o ser humano?"

Depois de muito zum,zum,zum, um garoto esperto respondeu:

"Na África."

"Muito bem! Os seres humanos surgiram na África."

Imediatamente B., uma aluna de pele branquinha e de cabelo "bom" (como eles mesmos gostam de classificar), muito bonitinha e muito boa aluna, retrucou com veemência:

"EU NÃAAAAAAO! EU NÃO NASCI NA ÁFRICA!

Os colegas tentaram argumentar, tentaram lhe explicar o que eu estava querendo dizer. A sala ficou tumultuada. Deixei-os falar e trocar ideias polêmicas sobre as quais ainda existem grandes mistérios. Essa é uma ótima forma de aprendizado. B., indignada, dirigiu-se a mim:

"ONDE VOCÊ NASCEU, PROFESSORA? VOCÊ É DA ÁFRICA?"

"Não. Eu nasci em uma cidade do interior do estado."

"ENTÃO VOCÊ NÃO É DA ÁFRICA. EU TAMBÉM NÃO SOU DA ÁFRICA."

Achei a coisa engraçada. Comecei a rir enquanto a "polêmica" pegava fogo. Não tive como retomar a atenção da turma para a devida explicação à B.. O sinal tocou. A aula acabou.

Na próxima aula pretendo retomar a fala de B., afinal, tudo que os alunos dizem é material fértil para o processo de ensino-aprendizagem, não é mesmo? Ou, quase tudo.