sábado, 3 de dezembro de 2011

Últimos cem metros

Você sabe, caro colega, o que me dá mais cansaço e desespero? Não é o aluno que precisa de 35 pontos em 25. Desse aí  eu já desisti. Se ele conseguir passar de ano nos últimos minutos do segundo tempo, ótimo. O que me dá mais raiva é o aluno que precisa somente de 15 ou 16 pontos em 25 e... some. Ele pára de frequentar as aulas. Quando vai, não realiza os exercícios e caminha a passos largos pra uma reprovação que não precisava acontecer.

Dei todas as chances, ao longo do ano, para ele precisar somente de 15 em 25 para passar. Recuperação paralela. Ou progressão continuada. Mil chances...e aí, quando chega dezembro, o aluno empaca, não faz mais  nada, não escreve, não consegue processar o que aprendeu, não consegue organizar um pensamento em forma de palavras em uma folha de papel, não consegue interpretar um texto simples.

"Vovô viu a uva".
Questão: "Quem viu a uva?"
Resposta: "a ulva".

E há a preguiça, claro. Tenho alunos tão preguiçosos, tão preguiçosos que eu diria que são deprimidos. Casos excelentes para psicólogos e psicopedagogos. Autoestima péssima. Não acreditam na própria inteligência. Não dou conta de lidar com isso. Não sou especialista. Faço o que posso. Incentivo, elogio, explico mil vezes, mas minhas ações não surtem efeito.Não sou uma ótima professora. Sou apenas uma professora. Não tenho varinha de condão pra resolver os problemas familiares dos alunos.

O governo e alguns economistas e teóricos da Educação acham que tudo se resume à "competência" do professor. É como se ele pudesse tudo, como se tivesse o dom de transformar corações e mentes. Transformados pela escola, os alunos seriam capazes de transformar suas famílias e consequentemente seu meio social. Não deixa de ser uma utopia.

A verdade é que a escola não é boa porque a sociedade também não é. Escola e sociedade se espelham.

Como eu disse, sou apenas uma professora. Não sou Deus. Eu não sou Jesus.

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