Eu nunca chamei meus alunos de macacos. Nem de brincadeira. Quer dizer... uma vez eu disse: "Pare de guinchar, menino!"
Ah, e também já disse: "Vocês parecem cachorrinhos de apartamento que ficam cheirando a porta da rua, doidos para passear."
"Credo, professora. A senhora tá chamando nóis de cachorro?"
"Não. Eu disse que vocês estão agindo como cachorrinhos e não que vocês são cachorrinhos. É diferente."
"Só porque a gente quer ir ao banheiro..."
"Vocês sempre querem ir ao banheiro, mesmo quando não estão com vontade".
Uma vez, há muito tempo atrás, durante uma aula, um aluno chamou o outro de macaco. Imediatamente tomei as dores do garoto negro:
"E você, sua lombriga branquela? Se ele é um macaco, você não passa de uma lombriga branquela!"
Eu era inexperiente na profissão. Achei que estava fazendo algo certíssimo defendendo o menino que foi acusado de símio.
De vez em quando quebro o protocolo e levo para a sala de aula esses casos que acontecem entre professores e alunos e que viram notícias de jornal. "O que vocês acham?"
"Eu acho que o professor deu mole. Professor folgado. Se fosse comigo eu dava um pau nele. Processava." Eles dizem.
Em outras ocasiões, no auge da insubordinação geral, eu brado:
"Ai, que saudade dos tempos da palmatória!"
"O que é palmatória, professora?"
Eu explico. Eles concluem:
"Hoje é o aluno que bate no professor, não é professora?"
"E você acha isso certo?" Procuro estimular o debate.
"Tem professor que é folgado."
"Folgado como?"
"Chama a gente de 'pivete'. Fala que nóis é burro."
Sinto pena. E vergonha.
Lembro da minha tia avó que me chamava de 'macaca'. Para o bem e para o mal eu era uma 'macaca'. "Menina mais sem modos", dizia.E até hoje sou muito estabanada. Com as coisas e, o que é pior, com as pessoas.
O que eu queria mesmo era ser uma boa professora, competente, confiável, adorável e amiga dos meus alunos o suficiente para poder dizer a eles com carinho e sem pejorar:
"E aí, macacada?"
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