quarta-feira, 8 de maio de 2013

Quando o pau quebra (5)

É bom que fique claro, caro colega, que trabalho em uma das vinte piores escolas de Belo Horizonte. Ou do estado. No dia em que a professora de biologia comentou esse fato na sala dos professores tive uma crise nervosa de riso. Depois veio o terror de passar minha vida inteira nesse local insano de trabalho, e sem luz, sem lanterna, sem nem uma mísera vela para tentar encontrar o fim do túnel.

Hoje o pau quebrou, de novo. Um menino chutou a boca do outro caído no chão. Sangue para todos os lados. Gritaria, torcida, balbúrdia e caos. Os alunos (todos) saíram das salas (todas) em para ver a briga que aconteceu não sei aonde, mas parece que foi no pátio interno do andar de baixo.

Estou tão submersa nos meus longinquos pensamentos que nem reajo mais. Continuo impassivel a passar os exercícios no quadro. Atitude cínica, mas o que posso fazer? Quando a briga é dentro da minha classe entro no meio, separo, grito, xingo, faço as ocorrências, mando chamar pai e mãe, tomo as providências cabíveis. E ainda corro o risco de levar um socão no meio da cara.

D. Margarida tem medo de ser tragada pela onda de banalização da violência que inunda a escola pública estadual de periferia. D. Margarida tem medo de passar a achar tudo normal, que "não tem jeito", que "as coisas são assim mesmo". D. Margarida tem medo de se tornar uma velha resignada cheia de manias e "achismos".

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