quarta-feira, 16 de março de 2011

Outros carnavais.


D. Margarida é brasileira, mas quando chega o carnaval sente-se melancólica.  Este ano, especialmente, com essa chuvarada que não parou de cair um instante sequer, D. Margarida adentrou outra dimensão do espaço-tempo. Foi o carnaval da ausência, sem vestígios da folia. Foi como se não fosse carnaval.

Uma coisa é não pular o carnaval, mas curtir o clima da festa, ouvir música, reunir os amigos; promover seu carnavalzinho particular; tomar porres íntimos e sambar ao som das velhas marchinhas. Outra coisa é  não sentir mais o carnaval dentro de você e deixar o tédio tomar conta do espírito.

Então, D. Margarida sentiu saudade.Saudade da época em que bastava ouvir um batuque para sair sacolejando feito uma epilética, se achando um destaque da Beija-Flor. Saudade do sobe-e-desce-ladeira do carnaval de rua das cidades do interior; da cerveja gelada, dos porres de cachaça com as amigas; dos beijos roubados dos moços bonitos; dos blocos, dos cordões, dos trios elétricos, das músicas, da loucura, do non sense, do inferno.

Para D. Margarida, a confusão começava na quinta-feira e só terminava no outro domingo, três dias depois da quarta-feira de cinzas. Seu carnaval era quase baiano: uma semana antes, uma semana depois. Fantasias? Melindrosa, bailarina, cigana, havaiana, toureira, freira, e outras tantas, improvisadas. Um sucesso.

Há décadas, D. Margarida não brinca mais o carnaval. Ela não sabe o que aconteceu. A vida é um pouco assim: por comodismo ou circunstância, as pessoas deixam pra lá vivências, gostos, costumes, tradições e hábitos que alimentam a alma. Sinto um pouco de pena dela.

A alma de D. Margarida sente saudade de outros carnavais.  Quem sabe, no ano que vem...

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