L. tem 14 anos e uma caligrafia péssima. Na aula passada, não consegui corrigir sua atividade porque não dei conta de decifrar o que ele tinha escrito no caderno.
"Pode deixar, professora. Eu passo a limpo. Eu passo a limpo."
"Na próxima aula, então, dou o visto no seu caderno, está bem?"
Chegou a "próxima aula". L. estava lá, me esperando, impaciente, com o caderno em riste:
"Olha meu caderno, professora! Olha meu caderno!"
Com custo consegui convencê-lo a esperar, um pouco. Após passar novas atividades no quadro, sentar e fazer a chamada, recebi L. e seu caderno em minha mesa.
Começei a corrigi-lo e, como de costume, algumas respostas não estavam corretas. Fui corrigindo e explicando, corrigindo e explicando...quando me deparei com a última questão, simplesmente ilegível.
"L., o que está escrito aqui?" interroguei-o. "Que palavra é esta? Leia-a para mim, por favor."
O menino atrapalhou-se todo. Não sabia responder. Ficou claro que tinha copiado a resposta de algum colega. Apontou um "AE" e disse que era Estados Unidos. Al Qaeda estava grafada como "a gaba". Nem ele, coitado, entendia a própria letra.
Somadas toda as questões, as corretas e as incorretas (mais incorretas do que corretas), ainda lhe dei dois pontos no exercício que valia quatro.
De repente, L. arrancou o caderno das minhas mãos, saiu batendo o pé, morto de raiva, parou no meio da sala,virou-se para mim e disse:
"Vai tomar no c...!"
Fiquei surpresa. Nunca um aluno havia falado comigo assim. Imediatamente pedi que saísse da sala. E continuei a aula, normalmente.
Mas, quer saber? Achei foi é graça no jeito de L. dizer "vai tomar no c...". Ele bateu o pé, deu uma olhada de lado, uma quebrada de pescoço, e sem alterar o tom de voz, bem afetado, disse: "Vai tomar no c...!"
Não tem problema não. Farei a ocorrência, chamarei a mãe e blablablá, blablablá. Nada se resolverá. Não posso suspendê-lo. E ainda terei que reconquistá-lo.
É melhor rir do que deprimir.
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