sexta-feira, 13 de maio de 2011

Acontece...

Na terça-feira passada, tive um chilique durante a quarta aula no oitavo ano c. Estava transbordando de impaciência por causa da conversação incessante, quando um aluno jogou o estojo do colega pela janela. Um outro que já estava à espreita, perto da porta, esperando qualquer distração minha para sair da sala, saiu sem me pedir permissão para buscar o tal estojo.Dei um berro no corredor que foi ouvido em todas as outras dez turmas da escola:

"Ô menino, quem deixou você sair? Volte agora pra sala de aula!"

"Calma, professora. Vou buscar o estojo..."

"Não me interessa. Entre agora!" E me dirigi à turma: "Vocês estão pensando o quê? Preparo a aula com o maior carinho e vocês não param de conversar um minuto sequer?"

A professora de Ciências veio em meu socorro: "Gente, estou dando uma prova na turma ao lado, vocês estão conversando muito alto, o barulho está atrapalhando os outros alunos..." ela falava baixinho para ver se os ânimos se acalmavam.

Eu, transtornada, continuei com minha metralhadora verbal:

"Vocês só vem à escola por causa da bolsa família. Só estão aqui para as mães de vocês receberem o dinheiro do bolsa família".

Aí o caldo entornou de vez: os alunos se ofenderam e começaram a retrucar, o tumulto aumentou, a professora de ciências desistiu de me ajudar  e foi embora. O bate boca insensato continuou até a chegada da especialista que fez com que todos se calassem. Não esperei duas vezes. Aproveitei o silêncio e emendei o meu discurso:

"Esta turma não sabe fazer silêncio para ouvir a professora! Eu peço 'por favor', mas ninguém me atende, então eu grito porque essa parece ser a única linguagem que vocês entendem. O que vocês pensam que eu sou? Vocês acham que eu tenho sangue de barata? Respeito às pessoas é uma coisa que se aprende em casa, com a mãe. Eu sou a professora! Vocês acham que eu caí aqui de pára-quedas? Eu estudei para estar aqui, eu me formei em uma das melhores universidades do país, eu fiz concurso público, passei, estou aqui por mérito! Eu sei o que estou fazendo quando preparo uma aula com  o maior carinho, para que esta aula seja a menos chata possível, para que vocês possam se desenvolver, desenvolver o cérebro, aprender a pensar, a ter senso crítico, que é única coisa para a qual a escola serve! O problema é que eu dou liberdade para vocês e vocês perdem o limite! Esta turma não tem limite!..." e blá, blá, blá...

Ao fim e ao cabo, os alunos até se comoveram com o meu discurso e concordaram comigo, a especialista me apoiou, e tudo ficou relativamente em paz.

Mas a ressaca moral de ter batido boca com adolescentes, de ter tido esse momento de descontrole e ter dado detalhe pra escola inteira... Ah, essa ressaca é péssima!

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