domingo, 25 de março de 2012

Quando D. Margarida pira (2)

Eu já lhe disse, caro colega, que este ano estou lecionando para os sextos anos? Estou enlouquecendo com a gritaria sem fim dos pirralhos. Tem hora que não aguento e solto uns gritos:

- SEEEEEEEEENTA , MENINO!

Isso, claro, depois de pedir umas trinta vezes de forma polida: "Sente-se por favor", "Silêncio, por favor", "Fulaninho, sente-se na sua carteira, por favor", "Vamos começar a aula? Vamos nos sentar?".

_ SEEEEEEEEENTA, PESTE!

Não falo, mas penso. Sinto vontade de agarrá-los pelos braços, de segurá-los pelas golas e socá-los nas cadeiras. Imagino-me segurando uma palmatória enorme, balançando-a pra cá e pra lá, nervosamente, autoritariamente, ameaçando a todo momento estraçalhar suas mãozinhas imundas. E eles, de cabecinhas baixas, morrendo de medo, sentadinhos, caladinhos, copiando, copiando, copiando. E d. Margarida, sem papas na língua, tendo regredido um século no túnel do tempo da imaginação, reinando absoluta e vitoriosa como a rainha da disciplina incondicional dos seus sextos anos:

_ MENINO CHATO! MENINO INSUPORTÁVEL! SUA MÃE NÃO LHE DEU EDUCAÇÃO, NÃO? ELA DEVE TER LHE DADO EDUCAÇÃO, MAS COMO VOCÊ É MUITO BURRO, MUITO IDIOTA, NÃO APRENDEU NADA! PESTE!

Delírios, alucinações. Definitivamente estou enlouquecendo e ainda estamos em março. Será possível completar o ano letivo sem remedinhos tarja preta e licenças médicas? Creio que não.


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