quarta-feira, 21 de março de 2012

A carta

De vez em quando (ou quase sempre, como preferir), nossos governantes nos oferecem de bandeja uma boa oportunidade para desmascarar, com classe, suas mentiras deslavadas. Esses momentos acontecem quando eles subestimam a inteligência do povo. Só não aproveita a chance de espinafrar o governo quem não quer. Ou quem é muito alienado.

Pois muito bem.  D. Secretária de Educação ordenou a distribuição de uma carta aos pais de todos os alunos da rede estadual. Esse folheto dizia, com todas as letras, que o reajuste dado "aos professores de Minas é, proporcionalmente, 85% superior ao piso nacional". A carta dizia também outras mentiras: que a educação mineira está ótima, melhorando; que 88,9% dos alunos de oito anos "dominam a leitura e a escrita". Enfim, uma carta de propaganda feita com dinheiro público. As escolas receberam verbas especiais para comprar papel, tinta e selos adesivos.

Fui incumbida de distribuir a tal carta nos segundos anos do ensino médio. Distribuição criteriosa, com lista de chamada devidamente assinada pelos alunos como comprovante. Antes de distribuir o papel infame, expliquei com toda clareza aos alunos qual deveria ser o valor do meu salário se o dr. governador tivesse concedido o piso nacional proporcional de acordo com o plano de carreira do magistério. Depois, com toda calma, revelei o valor do meu salário atual de acordo com a nova tabela do subsídio. Só isso. Não precisei dizer mais nada. Meus alunos são muito inteligentes:

_ Professora, o cara está te roubando! Não vou entregar carta nenhuma.

_ Por que vocês não fazem greve de novo?

_ Que absurdo, professora! A senhora ganha só isso? Mil reais não dá pra nada.

_ Vou jogar essa carta fora!

Por mim, eles podiam jogar a carta na lixeira ali mesmo. Mas, para não dar problemas para a diretora, recomendei que a partir do portão da escola para fora eles poderiam fazer o que quisessem com aquela carta.

E fui para casa. Feliz.

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