De vez em quando (ou quase sempre, como preferir), nossos governantes nos oferecem de bandeja uma boa oportunidade para desmascarar, com classe, suas mentiras deslavadas. Esses momentos acontecem quando eles subestimam a inteligência do povo. Só não aproveita a chance de espinafrar o governo quem não quer. Ou quem é muito alienado.
Pois muito bem. D. Secretária de Educação ordenou a distribuição de uma carta aos pais de todos os alunos da rede estadual. Esse folheto dizia, com todas as letras, que o reajuste dado "aos professores de Minas é, proporcionalmente, 85% superior ao piso nacional". A carta dizia também outras mentiras: que a educação mineira está ótima, melhorando; que 88,9% dos alunos de oito anos "dominam a leitura e a escrita". Enfim, uma carta de propaganda feita com dinheiro público. As escolas receberam verbas especiais para comprar papel, tinta e selos adesivos.
Fui incumbida de distribuir a tal carta nos segundos anos do ensino médio. Distribuição criteriosa, com lista de chamada devidamente assinada pelos alunos como comprovante. Antes de distribuir o papel infame, expliquei com toda clareza aos alunos qual deveria ser o valor do meu salário se o dr. governador tivesse concedido o piso nacional proporcional de acordo com o plano de carreira do magistério. Depois, com toda calma, revelei o valor do meu salário atual de acordo com a nova tabela do subsídio. Só isso. Não precisei dizer mais nada. Meus alunos são muito inteligentes:
_ Professora, o cara está te roubando! Não vou entregar carta nenhuma.
_ Por que vocês não fazem greve de novo?
_ Que absurdo, professora! A senhora ganha só isso? Mil reais não dá pra nada.
_ Vou jogar essa carta fora!
Por mim, eles podiam jogar a carta na lixeira ali mesmo. Mas, para não dar problemas para a diretora, recomendei que a partir do portão da escola para fora eles poderiam fazer o que quisessem com aquela carta.
E fui para casa. Feliz.
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