quinta-feira, 12 de julho de 2012

Quando D. Margarida pira

Hoje dei um piti horroroso por causa de uma porta que não existe e da minha síndrome de falta de educação hereditária. Gritei de forma inaceitável com pessoas que não mereciam isso de jeito nenhum. E eles também gritaram comigo, e me colocaram no meu devido lugar. Fiquei arrasada. Tudo por causa da porta que não existe. A porta que foi quebrada por mim e por alguns alunos em um momento de cabo-de-guerra- de-porta: os meninos empurrando a porta de fora pra dentro, e eu empurrando a porta de dentro pra fora.

A porta, de péssima qualidade, diga-se de passagem, sem maçaneta, só ficava fechada se a escorávamos com uma mesa ou com uma cadeira do lado de dentro. Na escola, há um esporte chamado "empurra porta" no qual alunos de outras turmas passam diante da sala de aula e dão um empurrão na porta, às vezes com os pés, às vezes com as mãos, dando um murro, e escancarando a porta bruscamente bem no meio da sua aula. Foi numa dessas ocasiões que empurrei, de dentro, a porta que estava sendo forçada de fora, e a porta foi para o brejo.

Para dar minha aula no sexto ano D - a sala sem porta - costumo colocar minha mesa debaixo do marco, como uma barreira para as crianças não saírem da sala. Sim, elas saem da sala sem minha autorização na maior cara de pau.  Até consigo segurá-las. Só que outros alunos de outras turmas começam a passar no corredor e resolvem dar uma paradinha na minha porta e mexer com os que estão do lado de dentro. E os que estão do lado de dentro resolvem mexer com os que estão do lado de fora. E eu, no meio.

Então, pra resumir, fiquei nervosa com o movimento e, depois de já ter pedido ajuda aos ajudantes de serviços gerais, dei um berro muito feio para "alguém" cuja responsabilidade é a de cuidar das crianças que ficam circulando no corredor (mas só fica conversando). Dei um berro feio pra esse alguém me ajudar. Esse alguém não gostou. Com razão. Nada justifica esse tipo de postura em uma escola. Professor berrar descontroladamente, ter um ataque, dar um xilique, é o fim da picada do mosquito do cocô do cavalo do bandido. Só piora as coisas. A vice-diretora, uma lady que nunca levanta a voz pra ninguém, também foi vítima do meu acesso de loucura. Comecei a gritar e a dizer que os ajudantes de serviços gerais não fazem nada, não cumprem suas obrigações, etc, etc.

Tudo por causa da minha falta de educação crônica, do estresse de fim de semestre e de uma porta que custa apenas R$ 50,00 e que ainda não foi consertada, sabe-se lá por quais razões. Há meses, damos aulas naquela sala sem porta. Eu devia ter arcado com as despesas desde o início, afinal o estrago foi cometido durante minha aula. Eu errei. Errei em não ter arcado com as despesas do conserto da porta e errei ao gritar com meus caros colegas. Errei feio.

Bem que eu queria uma licença médica, mas o dr. psiquiatra não tem  ideia do que é o cotidiano das escolas públicas de periferia. Ele não sabe o que a gente passa lá dentro. Ninguém sabe. E gritar com os colegas de nada adianta. Temos que nos unir. Temos que nos salvar. Mas o serviço é público e ruim. A lei do menor esforço vigora. Nem sempre ordens são obedecidas ou obrigações, cumpridas. Nessa hierarquia, professor não vale muita coisa. É por isso que portas que funcionam são importantes. De preferência, com maçanetas. Você fecha a porta e pronto, resolve seus problemas com os seus alunos lá dentro. E ninguém tem nada a ver com isso.

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